quarta-feira, 18 de março de 2015

Disco da Semana - Wado (1977)

O cantor e compositor catarinense (radicado em Maceió) Oswaldo Schlickmann Filho, o Wado, tem uma extensa e prolífica carreira. Pouco conhecido do grande público, mas cultuado no meio alternativo e elogiado pela crítica especializada, o músico teve seu primeiro álbum lançado em 2001. O Manifesto da Arte Periférica trazia em seu cerne influências do samba e do rock, com uma produção mais crua. Com os discos posteriores, Cinema Auditivo (2002), A Farsa do Samba Nublado (2004), e Terceiro Mundo Festivo (2008), o cantor lapidou seu modus operandi, que viria a atingir seu ápice com os sensacionais Atlântico Negro (2009) e Samba 808 (2011).

Dotado de um estilo próprio, porém nunca repetitivo, Wado lançou em 2013 o álbum Vazio Tropical. Produzido por Marcelo Camelo (Los Hermanos), é considerado até hoje seu disco mais melancólico, dando uma guinada até então inédita na sonoridade praticada até o momento. Predominantemente acústico, o álbum contou com a participação de diversos artistas tais como o próprio Camelo, Cícero, entre outros, que contribuíram para a bela, porém triste, paisagem sonora retratada naquela obra. Mas eis que chegamos no seu mais novo lançamento, 1977, e percebemos que o estoque de criatividade de Wado parece ainda longe de se esgotar, o que sempre é muito bem-vindo.



O álbum, cujo título faz referência ao ano de nascimento do cantor, é um disco curto e direto - o que nos faz avaliar ser esta sua obra mais acessível até o momento, ou seja, é uma excelente porta de entrada para quem quiser se aventurar na obra do músico. A novidade da vez é a influência do rock, explicitada de cara na excelente (e pesada) faixa de abertura, Lar. As faixas seguintes, Cadafalso (com participação de Lucas Silveira, da banda gaúcha Fresno), com seus jogos de palavras, e Deita, a mais pop de todas, não deixam a peteca cair. Mas engana-se quem pensa que o disco inteiro seguirá na mesma vibe, pois também há espaço para a beleza em 1977. As faixas seguintes seguem em um tom mais ameno, trazendo mais participações especiais (uma característica que o cantor vem trabalhando cada vez mais). Vocais de apoio em diferentes idiomas, cortesia dos cantores Samuel Úria e Martim (Portugal), Graciela Maria (México), Belen Natali (Argentina), e Gonçalo Deniz (Uruguai), trazem uma certa latinidad ao disco, rompendo fronteiras musicais - outra característica presente nas obras de Wado.

Trazendo ainda uma música composta em parceria com Zeca Baleiro (Palavra Escondida), 1977 é um disco que faz valer os 27 minutos destinados à sua audição. É um álbum que representa bem o músico que a concebeu, relembrando o passado, mas mantendo o senso de novidade que sempre esteve presente na carreira do cantor e compositor. Não à toa, Wado aparece na capa do disco com sua face, pura e simplesmente, à mostra - além de nomeá-lo com o ano de seu nascimento. Interessante notar que isso nem de longe acaba por tornar esta uma obra personalista demais - pelo contrário, há espaço para os convidados especiais brilharem tanto ou mais quanto em registros anteriores. Em um mundo virtual onde fica cada vez mais difícil escolher o que ver/ouvir, o filtro do Picanha certamente separaria este disco (que está disponível gratuitamente para download no site oficial) para recomendar a você, leitor, e a todos os nossos demais amigos. Confiram!

Nota: 8,0


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