Na trama do belo (e poético) filme Contrastes Humanos, dirigido por Preston Sturges, em 1941, somos apresentados a um diretor de comédias de Hollywood, vivido por um inspirado Joel McCrea, que, a despeito de seu sucesso no gênero, decide mudar de rumo, passando a fazer dramas e obras de cunho social. Sua intenção é refletir nas telas os problemas sociais vividos pelos Estados Unidos na década de 30, período conhecido como Grande Depressão. Algo que, eventualmente, também poderia representar uma evolução em seu processo criativo. Em uma das cenas, um dos produtores, tentando demovê-lo da ideia, pergunta: "mas com tantos problemas que as pessoas já possuem em suas casas, quem vai querer assistir um filme que as deixem tristes e desconsoladas, uma vez que a realidade não poderia ser mais desoladora"?
Pois essa é uma realidade que, por mais ultrapassada que possa parecer - que bom! -, sempre aparentará ser bastante plausível quando estivermos diante de um filme que trate de alguma doença grave. Especialmente aquelas incuráveis ou que mostram na tela algum paciente em estado terminal. Afinal de contas, para quem convive (ou conviveu) com esta dura realidade, parece ser bastante lógico querer assistir a algum filme como uma distração ou como algo que não se torne um processo tortuoso, que possa fazer com que a dor aflore ainda mais. E eu admito fugir dessas obras, dependendo do meu estado de espírito. Pra sorte, esse não é o caso de Para Sempre Alice (Still Alice), recém-lançado filme que laureou a sempre competente Juliane Moore com um Oscar, na premiação do último dia 22 de fevereiro.
Juliane está arrebatadora como a Dra. Alice Holland, uma renomada professora de linguística que, depois de esquecer algumas palavras e não lembrar de onde mora, se descobre portadora do Mal de Alzheimer. A doença modifica completamente a relação dela com o marido (Baldwin), que parece se distanciar a cada dia, e com os filhos - especialmente a caçula (Stewart, em boa atuação). A obra vai apresentando, de maneira implacável, as dificuldades vividas por quem sofre desta terrível doença - e nesse sentido é particularmente angustiante a cena em que Alice procura sem sucesso o banheiro na casa de campo da família, encontrando, diante da dificuldade, uma drástica solução. O que amplia a dor da personagem, ao passo que torna ainda mais palpável o seu sentimento de frustração.
Ainda que seja duro, o filme consegue encontrar algum equilíbrio ao apresentar algumas cenas mais leves que, em termos de estilo, até fazem lembrar o imperdível Mar Adentro, obra de 2004 com Javier Barden que, a despeito de tratar da vida de um homem tetraplégico preso a uma cama, mais parece uma comédia dado o absurdo de algumas situações. E, sobre Para Sempre..., é especialmente tocante a parte em que Alice, já com a doença em estágio avançado, consegue concluir um discurso para uma grande plateia, fazendo lembrar os seus melhores dias como uma renomada docente. Uma pequena vitória que emociona, especialmente àqueles que já tiveram algum caso parecido na família. Ainda que conte com um elenco secundário inspirado, o filme é todo de Juliane, que empresta seu talento a um personagem complexo, capaz de oscilar entre os bons e os maus momentos da maneira mais natural possível.
Nota: 7,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário