terça-feira, 17 de março de 2015

Cine Baú: Cantando na Chuva

De: Stanley Donen e Gene Kelly. Com: Jean Hagen, Gene Kelly, Debbie Reynolds e Donald O' Connor. Comédia / Musical, EUA, 1952, 103 minutos.

É provável que muitas pessoas conheçam o filme Cantando na Chuva (Singing in the Rain) apenas por conta da indefectível cena em que Gene Kelly - na pele do astro Don Lockwood - canta e dança em meio a um pé da água, ao som da canção Singing in the Rain. Algo bastante natural, uma vez que a cena é tão icônica, que se constitui em uma das mais memoráveis da história do cinema - talvez ao lado da sequência do chuveiro, em Psicose de Hitchcock. Só que é preciso que se faça justiça com o filme de Stanley Donen e Gene Kelly: Cantando na Chuva não é apenas o melhor musical já feito em Hollywood. É também uma das mais divertidas, inteligentes e carismáticas comédias já produzidas dentro daquilo que se convencionou chamar de "sétima arte".

A trama se passa no ano de 1927, mais precisamente durante o período de transição entre os cinemas mudo e falado. Por conta desta novidade, os estúdios estão se esforçando para levar ao público o melhor naquilo que se refere a nova tecnologia. Só que um dos grandes estúdios, responsáveis por mais de uma dezena de "clássicos" do cinema mudo, se vê diante de um sério problema: a sua maior estrela, Lina Lamont (Hagen) - par romântico de Lockwood -, tem uma voz tão estridente, que é capaz de fazer trincar até o mais resistente dos vidros de cristal. Não à toa, a sua primeira fala dentro do filme - após um preâmbulo de mais de 15 minutos, em que ela permanece muda - é algo tão surpreendente, que fará com que os desavisados diminuam o volume de seus televisores, apenas para não ter de ouvir a personagem resmungando.


Como forma de tentar solucionar o problema, Lockwood e outros integrantes do estúdio recrutam a jovem Kathy Selden (Reynolds) para dublar a voz de Lina, transformando o filme em que estão trabalhando atualmente em um musical. O roteiro, dotado de um irresistível frescor, contém diálogos inspiradíssimos - a parte em que Cathy faz pouco caso de Don ao afirmar que o cinema é um bom entretenimento para as massas, apesar das personalidades não lhe impressionarem, é especialmente divertido. "Os astros de cinema não atuam, só fazem caretas", afirma a personagem, utilizando-se de um recurso metalinguístico que funciona como uma espécie de paradoxo, especialmente se levarmos em conta o fato de que estamos diante de um filme feito com atores de Hollywood!

A propósito, este não é o único momento em que o filme brinca ao falar sobre si. As tomadas que representam o cinema mudo são exageradas, fazendo lembrar os filmes expressionistas, A aparição de um sujeito, em uma gravação, apresentando a novidade da época, também funciona como um hilário momento de humor involuntário. As dificuldades de Lina no ajuste do microfone e as discussões desta - que se ampara juridicamente para prosseguir como a estrela principal do estúdio, a despeito de sua voz horrível - com Don, também utilizam-se da metalinguagem em sua rpresentação. Tudo banhado por números musicais irrepreensíveis - como esquecer de Make 'Em Laugh, Good Morning e Moses Supposes, além da faixa que dá nome ao filme? A linda cena final é daquelas capaz de fazer qualquer espectador abrir um sorriso. Tudo por poder assistir a um dos mais inventivos, engenhosos e bem produzidos filmes de Hollywood que, não por acaso, ocupa um honroso 5º lugar na lista de melhores de todos os tempos do American Film Institute (AFI).


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