Na edição do mês de fevereiro da revista Rolling Stone, há uma divertidíssima matéria sobre as excentricidades do Bill Murray, que se estendem, inadvertidamente, para a sua vida profissional. Sem possuir agente, empresário ou assessor de imprensa, conseguir contratar o astro é um trabalho digno de um Hércules, caso o Deus grego possuísse uma décima terceira tarefa ainda a realizar. Quem quiser escalar o artista, precisa primeiro convencer algum amigo próximo a ligar para um número secreto de telefone. Caso ele aceite participar do filme, é bem possível que ele só apareça ao local da produção no primeiro dia de filmagens já que, nas horas vagas, ele pode estar jogando golfe com o seu taxista, ou lendo poemas para pedreiros em alguma construção qualquer.
Para que o diretor Theodore Melfi pudesse contar com Murray para sua nova película, Um Santo Vizinho (St. Vincent), o desafio não foi menor. Foram dezenas de mensagens de texto, de cartas e de sinais de fumaça para tudo quanto é canto dos Estados Unidos, onde o ator pudesse estar. Até o sim, que ocorreu após três horas de viagem deserto adentro, comendo queijo quente em uma lanchonete de beira de estrada, poucos dias antes do início da produção, foram meses de espera. Tudo à maneira histérica de Bill - hoje com 64 anos e mais de 50 filmes no extenso currículo - que, dadas as suas esquisitices, chegou a virar tema de um quadro de uma rádio em Charleston, na Carolina do Sul, onde é um dos donos de um time de beisebol da segunda divisão. O nome do espaço: Where's Bill?
O problema é que Melfi precisava de Bill Murray no filme. Quem mais interpretaria um veterano da Guerra do Vietnã, um sujeito mal-humorado que passa seus dias bebendo e fazendo apostas em corridas de cavalo, senão ele? O sujeito, que responde por Vincent De Van Nuys, tem seu sossego interrompido quando se muda para a vizinhança a recém-divorciada Maggie (McCarthy, finalmente livre de piadas estereotipadas sobre seu peso), junto com seu filho de 12 anos (Lieberher, uma boa surpresa), que está fragilizado pela separação dos pais. Após um início complicado, Vincent aceita ser uma espécie de babá do menino, já que a mãe trabalha como plantonista em um hospital local. Completa o elenco uma divertida prostituta grávida (Watts), de sotaque carregado e coração cheio.
Se a obra não é nenhuma maravilha da sétima arte, ao menos diverte e emociona, ao equilibrar momentos engraçados com outros mais dramáticos - especialmente àqueles que envolvem a esposa de Vincent, uma mulher em uma casa de idosos por conta de um Alzheimer. Murray, muito à vontade no papel, abusa dos diálogos inspirados, como na hora em que, incentivando o menino a usar a violência contra um colega de aula que o perturba, afirma da maneira mais natural possível que "o mundo não é feito de abraçadores de árvores". Com boa trilha sonora - que tem The National e Green Day, entre outros - o filme ainda traz uma bela lição de moral, ao valorizar não a fachada de uma pessoa ou aquilo que ela faz de bom apenas para que os outros vejam e sim os pequenos gestos que, em muitos casos, podem encher a nossa vida de significados.
Nota: 7,5
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