Esse álbum, que traz uma capa tão emblemática quanto a do Nevermind, do Nirvana, convida para uma viagem sem dizer claramente onde pretende chegar. Quando se embarca, em Speak to me, pode parecer que vai ser demorado. Quase no final da primeira faixa, isso já não importa: a velocidade é o de menos quando se está na estratosfera, puxado pelos acordes lunáticos da guitarra de David Gilmour e as teclas hipnotizantes de Rick Wright em Breathe. Os efeitos que vêm a seguir são carícias auriculares que fazem você se distrair como uma criança que brinca com bolinhas de sabão: por um bom tempo, não precisaria de mais nada além disso. Então, você percebe que há algo maior para entender quando lhe dizem: Breathe, breathe in the air/ Don't be afraid to care. Então, a viagem começa de fato e você nem se importa mais em olhar pra fora da janela: só quer continuar indo.
Para começar, Dark Side... não é aquele tipo de trabalho que se recomenda pra alguém dizendo “ouça a faixa de abertura, a três, a cinco e a seis”. Não. Apesar de ter alguns hits que até foram lançados em singles, como Time, Money e Us and Them, é preciso ouvir os quase quarenta e três minutos a fio pra valer a pena. Além disso, a maioria das músicas não terminam direitinho: ficam meio grudadas umas nas outras – algo que os Beatles haviam feito no Sgt. Peppers em 1967 mas que, me arrisco ao falar isso, o Floyd aperfeiçoou no Dark Side... .
Por isso, Breathe termina convidando para a seguinte, a instrumental On the Run, composta por uma sequência simples de notas feitas em um sintetizador, depois aceleradas e acrescidas de outros efeitos que, ao final, faz tudo isso quase nem se parecer com uma música. Essa foi uma das primeiras experiências de artificialização no rock, que abriria caminho para o que seria largamente utilizado a partir da segunda metade da década de 1970.
Recomendo, claro, além do disco, o documentário The Making of The Dark Side of the Moon, que mostra o processo de composição, produção e masterização: um processo que, feito com a pouco automatizada tecnologia da época – ou seja, manualmente –, se equivale a uma grande performance de uma orquestra sinfônica precisamente sincronizada.
Tempo, dinheiro, loucura e a relação entre as pessoas. As letras poderiam ter sido escritas há uma semana, mas foi há 42 anos. Era uma época que já vivia com estes problemas, e eles se aguçaram tanto que parecem deixar o álbum ainda mais atual. Mas não, não é um elogio à visão premonitória dos compositores: é um motivo para que, no meio da apressada rotina, se tire o tempo de conhecer esta obra."
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