quinta-feira, 19 de março de 2015

Lado B Classe A - Vampire Weekend (Modern Vampires of the City)

Eu vou ser sincero com vocês: até o lançamento de Modern Vampires of the City (2013), um dos melhores álbuns do novo milênio, eu não dava nada pelo Vampire Weekend. Ou quase nada. Tinha escutado os primeiros dois discos, Vampire Weekend (2008) e Contra (2010) e tinha achado ok. Mais uma banda bacaninha, alternativa, com um instrumental diferente - que misturava música tribal africana com uma espécie de punk rock modernoso e acelerado - e letrinhas sacanas sobre o dia a dia em alguma faculdade nova-iorquina. E só. Nada que me mobilizasse por mais do que um punhado de audições. Só que aí chegou o Modern Vampires... e, senhores, é preciso que se diga: QUE DISCAÇO!!! Assim mesmo, com caps lock ligado e exclamações, como se tivesse gritando pra todo o mundo ouvir.

Tudo o que o grupo, originário do Brooklyn, em Nova York, tinha realizado até então, foi deixado para trás em prol de uma elevação estética que alçou a banda, capitaneada pelo vocalista Ezra Koenig, a um outro patamar. Sim, estão lá ainda as batidas tribais e a música punk. Novamente estão presentes as boas letras, com refrões marcantes e vocal preciso. Só que tudo foi melhorado, renovado e melhor produzido, ampliando também as fontes de referências, que agora incluem elementos que remetem não apenas a musicalidade dos anos 60, mas também a composições clássicas concebidas em séculos passados. O que pode ser observado no uso de pianos, violinos e outros instrumentos que surgem de forma orgânica e natural, formando um conjunto extremamente coeso (e saboroso) de canções.


A abertura, com a espetacular Obvious Bicycle, já deixa essa proposta clara de saída. Seu arranjo curioso, pontuado por uma percussão de batida aparentemente simples, se encaixa de maneira perfeita a voz límpida do vocalista. O final, com piano precisamente inserido é daqueles para seduzir o ouvinte de primeira viagem. Logo após vem Unbelievers, com seu refrão grudento e um trabalho exemplar do tecladista Rostam Batmanglij, um dos grandes responsáveis pelo apuro estético do álbum. Step, a terceira canção do trabalho, surge como forma de consolidar a experiência que faz com que a banda ultrapasse os ritmos tropicais, chegando com mais clareza a sua nova fase. Não à toa, o uso de violinos gerou uma curiosa comparação com o clássico Canon in D Major, do compositor barroco Johann Pachelbel que, vejam só, viveu no século 17.

O disco segue com outras ótimas canções, que mesclam momentos mais introspectivos, como no caso de Hannah Hunt e outros com uma maior dinâmica, como em Diane Young, que é aquele tipo de música que te faz afastar o sofá pra cair na dança. Aqui e ali o registro apresenta corais de vozes - algo mais claramente visto na saborosa Worship You - e mesmo o barulho de conversas e de sussurros, que mostram que, no fundo, a principal temática do álbum tem a ver com a balbúrdia das grandes cidades, a vida na metrópole e a condição do homem moderno. Em Obvious Bicycle, tem-se um exemplo disso, quando Ezra canta sobre o sujeito que vai e volta pro trabalho e vive sem que ninguém lhe veja ou que isso faça alguma diferença pra alguém.

Vampiros da cidade, mas não os da saga Crepúsculo
Ainda a respeito das letras, como de praxe, elas são instigantes e pouco convencionais. Mas em geral elas versam sobre os medos do homem comum, sejam eles o da velhice - Wisdom’s a gift, but you’d trade it for youth/ Age is an honor, it’s still not the truth em Step -, o da morte - Don't lie, I want him to know/ Gods' loves die young, is he ready to go? em Don't Lie - e até de não ser amado - I know I love you/ And you love the sea/ Wonder if the water contains a little drop, little drop for me em Unbelievers. Tudo muito bem equilibrado entre o simples e o complexo, entre o fragmentado e o homogêneo. No fim, o Modern Vampires... até provocou um movimento inverso para mim, fazendo com que eu redescobrisse os dois primeiros trabalhos e passasse a gostar também deles. Especialmente do primeiro, que tem os hits Oxford Comma e A-Punk. Não foi à toa que o disco recebeu uma retumbante nota 9,3 do exigente Pitchfork, sendo considerado, também, pelo site nacional Miojo Indie, o melhor álbum internacional em sua lista de 2013 - ficando a frente do Reflektor do Arcade Fire. O que dá uma dimensão da importância e do impacto desse trabalho para o mercado musical.

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