sábado, 21 de março de 2015

Pérolas do Netflix - Amores Imaginários

De: Xavier Dolan. Com Monia Chokri, Niels Schneider e Xavier Dolan. Comédia dramática, Canadá, 2011, 95 minutos.

O filme Amores Imaginários (Les Amours Imaginaires), do jovem diretor canadense Xavier Dolan, começa com uma frase do poeta e dramaturgo Alfred De Musset: não existe maior verdade no mundo, do que o delírio amoroso. E quem já esteve perdidamente apaixonado, especialmente sem saber se está sendo correspondido, sabe o que é isso. A pessoa alvo desse amor arrebatador se torna idealizada, perfeita. Tudo o que ela faz serve de modelo, as imperfeições não são notadas ou se tornam coisinhas bobas e sem importância. Ficamos nervosos, ansiosos, de certa forma cegos, especialmente quando estamos diante desse ser "iluminado". E, invariavelmente, nos iludimos. É exatamente sobre este sentimento que trata o filme de Dolan. O que é feito de forma muito criativa e naturalista.

Na trama, Francis (Xavier Dolan) e Marie (Monia Chokri) são amigos inseparáveis, que tem sua amizade abalada quando o jovem Nicolas (Niels Schneider) se muda para Montreal, a cidade em que vivem. O caso é que, após o início da amizade, e a aproximação entre o trio, os dois se apaixonam pelo rapaz, tornando a sua possível conquista uma verdadeira obsessão. Assim, cada encontro se torna uma possibilidade de descobrir se esse amor é recíproco, sendo que ambos mantêm as esperanças, já que Nicolas é carinhoso, educado e brincalhão sem distinção de gêneros. Todo um contexto que, como não poderia deixar de ser, poderá abalar a amizade entre os dois. Algo bastante parecido com o que ocorre no clássico Jules e Jim - Uma Mulher para Dois, de François Truffaut.


Truffaut não é a única citação feita por Dolan no filme. Nas cenas em que Francis e Marie estão com outros pares amorosos, apenas com o objetivo de se satisfazerem sexualmente, o uso de uma fotografia de uma única cor, que pode ser azulada, rósea ou esverdeada, bem pode ser uma representação de um mundo pouco colorido, especialmente para os apaixonados platônicos. Por mais bela que seja a fotografia, sendo impossível não pensar nesse momento em filmes como O Desprezo, e, mais especificamente, O Demônio das Onze Horas, ambos de Jean Luc Godard, que era um verdadeiro mestre no uso desses recursos. A trilha sonora, muitas vezes utilizando-se do clássico italiana Bang Bang da cantora Dalida - com uma letra tudo a ver com o caso - torna a sessão ainda mais charmosa.

O roteiro e os diálogos inteligentíssimos nos apresentam as várias fases da paixão, que vão desde quando conhecemos o caráter e a personalidade da pessoa amada, até aqueles momentos que nos deixam irritados em determinadas situações. E, nesse sentido, chega a ser tragicômica a reação extremamente crítica de Marie, quando prestigia a peça de teatro de Nicolas, apenas por estar com ciúmes de outras amigas do jovem, que ela, naturalmente, não conhece. O filme também mostra como somos capazes até de receber um elogio de maneira distinta, se este for dito pela pessoa que amamos. Intercalando a história do trio com os depoimentos de outras pessoas a respeito de suas desventuras (e obsessões amorosas), Dolan constroi um filme humano e sincero sobre as conquistas e fracassos nessa seara eternamente cíclica. Uma verdadeira pérola.




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