segunda-feira, 2 de março de 2015

Cinema - Livre

De: Jean-Marc Vallée. Com Reese Whiterspoon, Gaby Hoffmann e Laura Dern. Drama / Biografia, EUA, 2014, 116 minutos.

Baseado em fatos reais, Livre (Wild) relata um episódio bastante específico da vida da escritora e ensaísta Cheryl Strayed (Reese Whiterspoon, em interpretação que lhe rendeu indicação ao Oscar) que, em 1995, decidiu percorrer os mais de 1.700 quilômetros que compõem a Pacific Crest Trail (PCT). O trajeto, que inicia no sul da Califórnia, no deserto do Mojave e passa pelo Oregon, até chegar ao Estado de Washington, representa um grande desafio, mesmo para montanhistas mais experientes - o que não era o caso de Cheryl, que decidiu fazer o percurso numa espécie de impulso, mesmo sem ter o preparo suficiente para isso. A intenção da jovem, na época com apenas 22 anos, era buscar o autoconhecimento, expurgando também o passado que envolvia drogas, traições e sexo barato.

Hábil em contar a história sem maneirismos ou exageros melodramáticos, Vallée (que no ano passado fez o ótimo Clube de Compras Dallas) nos apresenta a uma protagonista multidimensional que, em momento algum nos parece ser algum tipo de heroína de caráter perfeito. Ao contrário, conforme surgem na tela alguns flashbacks, fruto de um bom trabalho de edição, tomamos conhecimento de uma jovem que, em muitos casos, foi egoísta e individualista, magoando não apenas os seus familiares - em especial a mãe (vivida por Laura Dern de forma tocante) - mas também o ex-marido. E, nesse sentido, também merece crédito o trabalho do diretor, que jamais transforma as pessoas que faziam parte de seu passado em clichês ambulantes - como o marido traído e vingativo, o desconhecido abusador ou a mãe problemática.


Por outro lado, Reese entrega uma performance apenas razoável ao se despir completamente de qualquer vaidade, se apresentando de maneira permanente como uma mulher sofrida, insegura quanto ao que está fazendo e também machucada pelo desafio a que se propôs (e também pela vida). Ainda que seja meio difícil acreditar no sofrimento de uma atriz de rosto bonitinho e que, em muitos momentos, acaba não convencendo. O que torna a sua indicação ao Oscar ainda mais curiosa. Ainda assim, Reese se esforça para tornar crível e natural o seu desempenho, algo que pode ser destacado nas "pequenas" dificuldades vividas por Cheryl, sejam elas na hora de carregar a monstruosa mochila ou montar a barraca - algo que também serve para nos mostrar a inexperiência da personagem.

Para aqueles que esperam grandes imagens da natureza selvagem, com medos diversos envolvendo insetos, cobras ou animais maiores ou mesmo trilhas mais complexas, neve congelante ou rios e lagos mais violentos, a obra deixa um pouco a desejar - e a impressão que se tem em alguns casos é a de que Cheryl quase nem enfrentou complicações em sua jornada, já que o roteiro abranda qualquer dificuldade um pouco maior. Algo que talvez seja até proposital, já que a escritora já deu entrevistas em que fala das coisas boas passadas em sua aventura, como, por exemplo, o encontro com pessoas gentis e prestativas. Mas que torna o filme insípido em muitos momentos. Algo que, eventualmente, é compensado pela ótima trilha sonora - talvez influenciada por Nick Hornby, que foi um dos roteiristas.

Nota: 6,5



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