terça-feira, 24 de março de 2015

Cinema - Corações de Ferro

De: David Ayer. Com Brad Pitt, Shia LaBeouf, Logan Lerman, Michael Peña e Jon Bernthal. Drama / Guerra / Ação, EUA / Reino Unido / China, 2014, 134 minutos.

Ao terminar a sessão de Corações de Ferro (Fury), fiquei com a impressão que a Academia se enganou feio esse ano: ao preterir o filme de David Ayer, em favor do insosso e excessivamente patriota Sniper Americano, de Clint Eastwood, os votantes perderam a chance de valorizar aquele que é o melhor filme de guerra desse início de temporada. A trama se passa em 1945, na reta final de Segunda Guerra Mundial, quando as tropas aliadas, comandadas pelos americanos, aos poucos começam a tomar a Alemanha dos nazistas. Mas a batalha ainda não terminou e um grupo de soldados é incumbido de navegar, por terra, utilizando-se de grandes tanques de batalhas. Algo que possibilitará a retomada das cidades que circundam Berlim e a posterior devolução destas ao povo germânico.

Não é uma tarefa fácil, evidentemente. Os soldados americanos estão em menor número, tem menos armas e não estão assim tão familiarizados com a geografia. Um dos tanques, o Fury, que dá o nome original ao filme, é capitaneado pelo embrutecido oficial Wardaddy (Pitt). Ao lado dele, estão outros quatro soldados: Bible (LaBeouf), Gordo (Peña), Coon-Ass (Bernthal) e o recém-chegado Norman (Lerman), um datilógrafo que, como motorista do pelotão, conhecerá no campo de batalha os horrores da guerra. Tendo como principal cenário o interior do tanque de guerra, a obra de configura como um suspense absolutamente claustrofóbico, ao focar grande parte de suas ações nesse espaço que, certamente, não possui muito mais do que cinco metros quadrados. O que, por si só, já seria um diferencial dentro do um tanto batido segmento dos "filmes de guerra".


Mas não é só isso. Ayer constroi seus personagens de maneira multifacetada e, ainda que não saibamos praticamente nada sobre seus passados, a única certeza é de que são sujeitos marcados pela brutalidade do conflito. Amargurados, descrentes e, em muitos casos, animalescos. Algo que fica claro na cena em que o grupo encontra, após tomar uma cidade, uma mulher e sua sobrinha, não hesitando em assediá-las moral e psicologicamente, como se fosse a obrigação delas servir-lhes sexualmente (no plural mesmo), apenas por terem sido "libertadas" pelos americanos. E esse se constitui um grande acerto do roteiro e que o diferencia completamente de outros filmes de guerra, como o próprio Sniper, ao tratar também os mocinhos como eventuais vilões, subtraindo da trama as facilidades que poderiam ser impostas pelo maniqueísmo.

Igualmente as cenas de batalhas são muito bem construídas, com sequências que permitem ao espectador entender bem o que está acontecendo, mesmo quando diante de uma sequência em que tudo que se vê são tiros, granadas e explosões para todos os lados. A obra também não pega leva ao apresentar de maneira muito realista os danos causados pela enxurrada bélica, não sendo poucas as imagens de cabeças decepadas, membros, vísceras e sangue. Muito sangue. Nesse sentido também são muito curiosas as sequências que mostram os corpos empilhados em meio a lama, em muitos casos, sendo difícil separar os dois "elementos". Algo que se torna ainda mais chocante, a partir da fotografia acinzentada e eventualmente escurecida. E que serve para demonstrar sem concessões a fragilidade e o caráter pueril do corpo humano em conflito. Mais um dos tantos acertos desse bom filme.

Nota: 8,0


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