quinta-feira, 26 de março de 2015

Disco da Semana - Tobias Jesso Jr. (Goon)

Impressionante a capacidade que alguns artistas da nova geração têm de se apropriar de estilos e formatos de música consagrados no passado, conseguindo ao mesmo tempo não apenas renovar estes mesmos modelos, mas ainda acrescentar a eles um frescor capaz de dotar os seus trabalhos de uma personalidade própria. Aconteceu no início do ano com a jovem Natalie Prass que, com seu formidável disco homônimo de estreia, misturou Björk, Kate Bush e Dolly Parton, em um álbum que certamente figurará em diversas listas de melhores do ano. E é bem provável que o mesmo processo seja vivenciado pelo canadense Tobias Jesso Jr. que, com seu trabalho de estreia, Goon, tem recebido elogios da crítica, sendo comparado, vejam só, com ninguém menos do que John Lennon.

Exagero ou não, o fato é que o artista lançou um álbum que impressiona pela simplicidade, capaz de tornar o ouvinte íntimo de suas canções já na primeira audição - e, nesse sentido, é preciso que se diga que Tobias Jesso Jr. mais parece aquele amigo que aprendeu a tocar piano e que agora faz apresentações em jantares só pela parceria. Isso em um mundo ideal, é claro. A abertura, com a espetacular Can't Stop Thinking About You, por exemplo, bem poderia ser parte de algum disco do Elton John, nas fases Madman Across the Water ou Blue Moves. O mesmo valendo para a linda Without You, que tem um refrão tão mas tão pegajoso, que é provável que você se pegue cantarolando ele, sem nem perceber. E isso que, a essa altura do álbum estamos apenas na terceira música.


O fato é que, em uma época em que prevalece a pirotecnia também no meio musical - quem escutou qualquer disco recente do Muse sabe o que é isso - chega a ser alentador ouvir um álbum apenas com voz e piano. Dificilmente se encontra em Goon qualquer tipo de exagero instrumental ou de arranjo, sendo a máxima extravagância um dedilhado a mais de violão ou alguma eventual percussão. Nada de botões, samplers, sintetizadores e outras tecnologias que pudessem fazer com que nos sentíssemos dentro de um fliperama. Bom, como vocês veem acima, até a capa é simples. Sai a balbúrdia de uma grande cidade, entra a introspecção e o ambiente familiar, capaz de nos levar diretamente aos anos 60. Bem ao estilo de Lennon, McCartney e de outras estrelas as quais Jesso Jr. tem sido comparado. Algo que fica ainda mais claro ao ouvir canções como a bela For You.

As letras, extremamente intimistas, falam das alegrias e dissabores do amor e, ainda que eventualmente possam soar ingênuas, elas estão plenamente adequadas a proposta do trabalho. Por exemplo, em For You, o jovem está radiante: Every time I see ya, I'm always smiling/ Every time I see ya, you're always shining, canta Jesso Jr., bem ao estilo dos Beatles na fase ié-ié-ié. Ao passo que, na melancólica How Could You Babe, o artista lamenta: And I find out you'd gone and met a new man/ And told him he's the love of your life/ How could you, baby? (how could you, baby?). O mesmo ocorre em outros belos momentos como em The Wait e Hollywood. Tudo muito simples, humano, sincero, direto. Mas amplo, cheio de significados, nada artificial. O que torna esta uma grande estreia.

Nota: 8,5


Nenhum comentário:

Postar um comentário