terça-feira, 29 de setembro de 2015

Picanha em Série - Narcos

De: Chris Brancato e Eric Newman (com direção de José Padilha). Com Wagner Moura, Pedro Pascal, Boyd Holbrook, Luiz Guzmán e Juan Pablo Raba. Drama / Policial / Biografia, 2015

Assim que terminei de assistir a primeira temporada de Narcos - uma das melhores séries que já vi na vida (coloco inclusive ao lado de Breaking Bad e vocês não me atirem pedras!) - fiquei refletindo por alguns minutos: como pode, diante de uma material dessa envergadura, encontrarem problema no sotaque do Wagner Moura em sua interpretação do chefão do Cartel de Medellín, Pablo Escobar? E o seu esforço em ao menos tentar falar espanhol, com direito a permanecer dois anos estudando seu personagem na Colômbia? E o fato de ter engordado 20 quilos para interpretar o sujeito? E a produção impecável, caprichadíssima, aliada a uma fotografia amarelada e de acordo com o roteiro bem organizado, tudo pra contar uma história que, se fosse ficção, poucos acreditariam? Numa boa, só os colombianos estão autorizados a achar problema em sotaque.

E olhe lá. Ou será que os nossos vizinhos prefeririam o Benício Del Toro falando inglês no filme Paradise Lost, em que ele interpretava, vejam bem, PABLO ESCOBAR? Sim, falando inglês. Sendo que ele nunca deve ter sequer dito um yes ou no na língua do Tio Sam. O fato é que Wagner Moura está imperdível como Escobar. Ator de qualidade que é, consegue equilibrar, em sua interpretação, uma certa placidez em seu comportamento - especialmente no trato com a mãe, a esposa e o filho - com outros de absoluto descontrole, sendo capaz de mostrar no instante seguinte a sua verdadeira faceta como sujeito sanguinário, instável, cruel, desumano, insensível, intratável, bestial, boçal, estúpido e até mesmo repugnante. A lista de adjetivos poderia não ter fim, ao se analisar um sujeito que não hesitaria em levantar a arma para qualquer pessoa que estivesse "atrapalhando" seu caminho.


A série é narrada em primeira pessoa pelo agente do departamento antidrogas americano Steve Murphy (Boyd Holbrook) que, ao lado de outro agente, se envolverá em uma verdadeira caçada contra Escobar e seus comparsas. No começo da série, o traficante ainda é uma espécie de "peixe pequeno", ainda que já utilize a intimidação e a chantagem, como forma de obter vantagens nas negociações com a polícia local. E em uma das primeiras cenas do primeiro episódio fica clara a capacidade do sujeito de amedrontar, com voz calma, todos os encarregados de conferir a mercadoria transportada por Escobar. A aproximação a outros traficantes, um deles de nome Gacha, vivido por Luiz Guzmán (que nasceu pra interpretar o chicano de cara feia), o fortalecerá ainda mais - e também ao seu negócio, "construído" em esconderijos nas florestas colombianas e que só funciona por conta da alta demanda dos americanos pela cocaína.

Escobar terá problemas com a polícia local, com os agentes americanos, com os seus comparsas. Tentará ser presidente da Colômbia, com um discurso filantrópico de ajuda aos pobres. Invadirá o Palácio da Justiça. Matará juízes de direito, congressistas, candidatos a presidência (em especial os favoráveis a extradição) e advogados. E policiais. Aliás,  muitos polícias - cada um assassinado era capaz de render até US$ 200 mil pra cada capanga responsável pelo crime. O que era uma mixaria para quem faturava até US$ 60 milhões POR DIA de trabalho. Sequestrará pessoas que aparecem nas colunas sociais, se aproximará de jornalistas, tentando se dar bem as custas deles. Pablo tentará ser o dono do mundo em uma série absolutamente arrebatadora, tensa, impactante, nervosa, angustiante. Se alguém falar do sotaque de Moura novamente, ignore. Faça um bem a si mesmo e assista esse material. É entretenimento de primeira.



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