quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Disco da Semana - Luneta Mágica (No Meu Peito)

É possível analisar o novo disco dos amazonenses da Luneta Mágica, a partir de dois pontos de vista distintos. Explico: no primeiro trabalho, o arrebatador Amanhã Vai Ser o Melhor Dia da Sua Vida (2012), o grupo - formado por Pablo Araújo (vocal e guitarra), Erick Omena (guitarra), Eron Oliveira (baixo) e Diego Souza (baixo e teclado) -, carregava no experimentalismo estético, apresentando uma obra um tanto densa, pautada por uma sonoridade pastosa (no melhor sentido da palavra) e que, amparada por vocais etéreos, a aproximava em muito de grupos americanos como Grizzly Bear ou Beach House. As emanações mágicas do dream pop estavam em toda a parte, desde a abertura com Astronauta, passando pela surrealista Cinco Bolas de Sorvete Por Apenas Um Real, até culminar na caótica Manaus 14:00, que se apropria de todos os elementos do estilo, transformando-os em um produto bastante particular e de referência local.

Nesse sentido, é preciso que se diga, o quarteto nunca aparentava estar fazendo a homenagem pela homenagem, sempre sendo capaz de, aqui e ali, incorporar algum aspecto de seu universo particular - e até mesmo regional. Fosse nos versos, ou mesmo na base sonora, ainda que, eventualmente, estivesse encorpada pelos sintetizadores e pelas guitarras ruidosas - que nunca soavam excessivamente desconexas, sempre tendo uma lógica de engate entre um elemento e outro dentro de cada composição. Os raros flertes com o pop radiofônico - como na nostálgica Largo São Sebastião e na melancólica Sábado - quase pareciam guardados em algum cantinho do registro, mas sempre prontos para serem descobertos depois de meia dúzia de audições.



Ocorre que, com o recém lançado No Meu Peito, a coisa muda completamente de figura. A banda abraça os versos cantaroláveis e um instrumental mais fluído e de fácil reconhecimento por parte do público. Como se estivesse pronta para derrubar algum eventual muro, que ainda servisse de bloqueio para o ouvinte. Evolução? Retrocesso? Uma banda, uma vez que inicia o seu processo de constituição, precisa invariavelmente caminhar com segurança naquela trilha que a torna conhecida com o decorrer de seus trabalhos? Ou é importante se reinventar a cada registro, ampliando suas possibilidades? Bom, eu não sou crítico de música profissional, como vocês já sabem, e não sei dizer se isso é bom ou se é ruim. Gosto demais de música pop, em todas as suas vertentes e, assim como o primeiro projeto da Luneta..., o segundo é sensacional.

Após a abertura com a homônima No Meu Peito, vem uma trinca de músicas que não faria feio, por exemplo, em algum disco do Biquini Cavadão (na falta de um exemplo melhor) - Lulu, Acima das Nuvens e Mônica são alegres, primaveris e capazes de encher de cor uma ambientação que, usualmente, era pautada pela melancolia, pelas vozes sussurrantes e pelo clima onírico. Evidentemente, os amazonenses não abandonam completamente esse modelo, algo que fica claro em registros mais minimalistas, casos de Preciso e Mantra. Mas é abraçando os hits - caso da derradeira Rita (a melhor!), que os integrantes do grupo parecem ampliar suas possibilidades sonoras - num curioso processo de inversão - capaz de aproximá-los e de torná-los conhecidos de um público ainda maior. Nós, aqui do Rio Grande do Sul, saudamos essa evolução. E esse disco, um dos melhores nacionais de 2015.

Nota: 8,5

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