segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Disco da Semana - Fábio Góes (Zonzo)

Alguns discos acabam por cruzar nosso caminho um pouco tarde demais, ao ponto de não conseguirmos valorizar devidamente o trabalho feito com tanto esmero e capricho. É o caso de Zonzo, álbum do paulista Fábio Góes, lançado no segundo semestre de 2015. Digno de figurar na lista de melhores do ano que passou aqui no site, Zonzo é um dos melhores exemplares do que se produz no pop/rock brasileiro contemporâneo, e mais um exemplo de empreitada bem sucedida através de financiamento coletivo via internet.

Góes é compositor e produtor musical, mais conhecido por trabalhar com trilhas sonoras para o cinema (Abril Despedaçado, Cidade de Deus, e Não Por Acaso são algumas das obras mais notórias), mas que já possui uma carreira solo com os álbuns Sol No Escuro (de 2007) e O Destino Vestido de Noiva (de 2011), ambos igualmente elogiados pela crítica musical.Tendo como referência o que de melhor o Brasil produz na música pop, no presente disco o artista amplia seu leque de influências ao resgatar a sonoridade dos anos 80, com a estética devidamente incorporada à música alternativa do novo milênio.


Quando falamos em pop aqui, não é aquele pop descartável a que estamos acostumados. Em Zonzo temos canções extremamente cantaroláveis embaladas em uma produção requintada, com vários truques de estúdio que enriquecem ainda mais suas criações. O início etéreo com Sonho Guia faz a cama pro que há de vir nas faixas seguintes. Moça, Nada Demais (que lembra The Cure), Nerves, Apenas Simplesmente (com participação de Tulipa Ruiz) e Perto (cuja batida lembra muito Lisztomania da banda Phoenix) fazem uma sequência memorável de hits que poderiam (deveriam) perfeitamente figurar nas FM's de plantão. Já o lado B do álbum nos reserva algumas surpresas, com as canções mais pungentes e belas do álbum. Da lenta, melancólica e climática Espanto, até a linda Dois Lados, vemos a influência de cantores como Guilherme Arantes e até do Clube da Esquina (reverenciado na regravação de O Trem Azul) enquanto a derradeira Levanta encerra o disco em uma nota otimista e esperançosa.

A gente sabe que uma obra é especial quando a mesma permanece conosco por vários dias após sua audição, nos fazendo querer retornar a ela sempre que possível. Como bom autor de músicas para o cinema, Fábio Góes pode ter composto aqui a trilha sonora da vida de muita gente, seja para momentos em que precisamos de um empurrãozinho pra se motivar até outros mais contemplativos. Com a facilidade que temos acesso à música atualmente, resta incluir este Zonzo no filtro de obras relevantes da sua playlist. O Picanha agradece.

Nota: 8,5

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