Alguns discos acabam por cruzar nosso caminho um pouco tarde demais, ao ponto de não conseguirmos valorizar devidamente o trabalho feito com tanto esmero e capricho. É o caso de
Zonzo, álbum do paulista
Fábio Góes, lançado no segundo semestre de 2015. Digno de figurar na
lista de melhores do ano que passou aqui no site,
Zonzo é um dos melhores exemplares do que se produz no pop/rock brasileiro contemporâneo, e mais um exemplo de empreitada bem sucedida através de financiamento coletivo via internet.
Góes é compositor e produtor musical, mais conhecido por trabalhar com trilhas sonoras para o cinema (
Abril Despedaçado,
Cidade de Deus, e
Não Por Acaso são algumas das obras mais notórias), mas que já possui uma carreira solo com os álbuns
Sol No Escuro (de 2007) e
O Destino Vestido de Noiva (de 2011), ambos igualmente elogiados pela crítica musical.Tendo como referência o que de melhor o Brasil produz na música pop, no presente disco o artista amplia seu leque de influências ao resgatar a sonoridade dos anos 80, com a estética devidamente incorporada à música alternativa do novo milênio.
Quando falamos em pop aqui, não é aquele pop descartável a que estamos acostumados. Em
Zonzo temos canções extremamente cantaroláveis embaladas em uma produção requintada, com vários truques de estúdio que enriquecem ainda mais suas criações. O início etéreo com
Sonho Guia faz a cama pro que há de vir nas faixas seguintes.
Moça,
Nada Demais (que lembra The Cure),
Nerves,
Apenas Simplesmente (com participação de Tulipa Ruiz) e
Perto (cuja batida lembra muito
Lisztomania da banda Phoenix)
fazem uma sequência memorável de
hits que poderiam (deveriam) perfeitamente figurar nas FM's de plantão. Já o lado B do álbum nos reserva algumas surpresas, com as canções mais pungentes e belas do álbum. Da lenta, melancólica e climática
Espanto, até a linda
Dois Lados, vemos a influência de cantores como Guilherme Arantes e até do Clube da Esquina (reverenciado na regravação de
O Trem Azul) enquanto a derradeira
Levanta encerra o disco em uma nota otimista e esperançosa.
A gente sabe que uma obra é especial quando a mesma permanece conosco por vários dias após sua audição, nos fazendo querer retornar a ela sempre que possível. Como bom autor de músicas para o cinema, Fábio Góes pode ter composto aqui a trilha sonora da vida de muita gente, seja para momentos em que precisamos de um empurrãozinho pra se motivar até outros mais contemplativos. Com a facilidade que temos acesso à música atualmente, resta incluir este Zonzo no filtro de obras relevantes da sua playlist. O Picanha agradece.
Nota: 8,5
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