segunda-feira, 29 de junho de 2015

Disco da Semana - Comunidade Nin-Jitsu (King Kong Diamond)

Juro que quando vi que os gaúchos da Comunidade Nin-Jitsu tinham lançado disco novo - o anterior havia sido o discreto Na Laje, no longínquo 2008 -, minha primeira reação foi a de desconfiança. Confesso que dei o play com pouquíssima expectativa. Não que eu esperasse um novo Maicou Douglas Syndrome - das hoje já clássicas Cowboy, Ah! Eu Tô Sem Erva, Patife, Não Aguento Mais, Arrastão do Amor, entre outras. Mas o que eu queria mesmo era o mesmo clima leve, descompromissado, chinelão, da chalaça. Queria aquela boa e velha mistura criativa (!) de funk com rock, de pancadão com guitarras. Afinal de contas a Comunidade é a banda de quem fala bem capaz velho, não vai te encolher por qualquer coisa, não te atucana à toa, baita indiada, dá um conferes, entre outras tantas expressões do gauchão que frequenta muito mais a Cidade Baixa do que a coxilha.

O disco - intitulado (pasme) King Kong Diamond - começa com uma daquelas batidas típicas de baile funk. Os primeiros segundos são de pura ansiedade. Até que entra o Mano Changes, já dando a letra na primeira frase da canção Dona da Boca: É a mais linda das mulheres/ É um banquete pra mil talheres. Pronto! Um verso já foi suficiente para se encher de esperanças de que a boa e velha Comunidade estava de volta. E estava mesmo! A primeira música segue com outras pérolas como: Ela é Sensível / Considerável / Minha Criptonita / Meu Sexo Frágil. Tudo envolto naquele clima de boate bacana, em que é possível ouvir os mais variados estilos musicais, sem concessões. Se houvesse torcida, ela ia estar gritando: Ôooo a Comunidade voltôoooo, a Comunidade voltôooo, a Comunidade voltôoooo-ooo!


Evidentemente, a banda - atualmente composta também pelos integrantes Fredi Chernobyl (guitarra), Nando Endres (baixo) e Cristiano Bertolucci (bateria) e completando 20 anos de estrada - como sempre não se pretende séria, o que é um dos pontos mais positivos do trabalho. E isso fica claro no tradicional amontoado de expressões divertidas, de metáforas jocosas e na verborragia ao mesmo tempo cínica e ácida dos versos sempre diretos ao ponto. Mano Changes, ao invés de ter virado um "velho" ranzinza e chato, nos faz pular como se fôssemos eternos adolescentes, cantando e compondo como se estivesse sempre com os hormônios "explodindo". O que fica ainda mais evidente nas ótimas Gata Sincera e, na melhor do disco, Maremoto. Com seu refrão sacana - Todo o dia eu acordo pra vê-la passar / Do meu Apartamento com Vista pro Mar / É um maremoto no meu colchão / Passei a noite na destruição - a música não faria feio no meio do Maicou Douglas Syndrome.

É claro que nem tudo é festa, mulherada e loucuragem nas letras da Comunidade. Tem um pouco de crítica, como em Diamantes Verdadeiros, sobre aquelas garotas que só pensam em dinheiro, ideia que se estende para a faixa seguinte, Moneypulador - aliás, atenção para os trocadilhos já presentes nos títulos de ambas as músicas. Ainda assim é interessante notar que Mano Changes jamais usa a banda como um veículo para autopromoção política, pensando em futuros pleitos, após ter sido deputado estadual - aliás, o disco estava pronto já na época das eleições. Ao contrário, os temas mais sérios e a eventual crítica social aparecem de forma discreta e orgânica. Produzido por Edu K, que acompanha o grupo desde o início da carreira, o disco mantém o padrão altamente idiossincrático do quarteto, sendo impossível não reconhecer as canções - na sua tradicional estrutura heavy metal com funk carioca, atualizado por ritmos litorâneos e de R&B americano - assim que elas começam a rodar. Prepare o churras com os amigos e divirta-se.

Nota: 8,0

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