sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Disco da Semana - Sleater-Kinney (No Cities to Love)

Já fazia dez anos que as garotas roqueiras do Sleater-Kinney não lançavam disco - o último foi o barulhento The Woods, de 2005. Mas se engana quem pensa que esse meio tempo tenha sido exclusivamente de descanso - uma filosofia que, é bom que se diga, nem combinaria com a proposta da banda. Uma das vocalistas, Carrie Brownstein, esteve envolvida em quatro temporadas da série Portlandia que, dizem, é uma das mais engraçadas da atualidade (alguém aí já viu?). Outra vocalista, Corin Tucker, trabalhou em carreira solo, tendo lançado o último disco em 2012.
Ocorre que o hiato parece ter feito muito bem para a banda de Olympia, Washington, que agora retorna com o ótimo No Cities to Love. O álbum, com 10 músicas e pouco mais de meia hora de duração, mantém a já tradicional visceralidade e a verve roqueira que sempre caracterizaram o grupo. Afinal, nunca é demais lembrar que se trata de uma banda que "opera" com duas guitarras e uma bateria. O que torna o som cru e até agressivo para ouvidos que talvez estejam mais acostumados a ouvir cantoras pop sussurrando versos românticos e melosos em canções prontinhas pra tocar em alguma rádio light.



Nunca é demais lembrar que o Sleater-Kinney faz parte do movimento das  Riot Grrrls que, nos anos 90, surgiu justamente como forma de protesto relacionado a um certo machismo no mundo da música. Diziam as integrantes do movimento, que os homens seriam incapazes de vê-las de forma igualitária, ou seja, como alguém que tem seus direitos, expressa suas opiniões e é capaz de tocar uma guitarra de forma furiosa. E esse estilo sempre resultou em letras ao mesmo tempo divertidas, sacanas, confessionais e diretas ao ponto, versando sobre temas os mais variados, como sexo casual, ditadura da moda, bebedeiras, entre outros.
A diferença desse para os discos mais recentes do trio, é que, ainda que o som continue ruidoso, como já dito antes, há que se destacar um aumento do caráter melódico das composições, fruto também de um esplêndido trabalho vocal. Se antes quase não conseguíamos encontrar refrões nas letras verborrágicas e furiosas - sendo talvez a única exceção o clássico álbum Dig me Out, de 1995 -, agora, eles estão em toda a parte. Portanto, não se surpreenda se você se pegar cantarolando, após ouvir duas ou três vezes canções como A New Wave, Bury Our Friends, Gimme Love e, especialmente No Cities to Love - que mais parece algum "lado B" do disco Show Your Bones do Yeah Yeah Yeahs. Enfim, um retorno que deve ser saudado.

Nota: 8,0

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