quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Cine Baú: Crepúsculo dos Deuses

De: Billy Wilder. Com William Holden, Gloria Swanson e Erich Von Stroheim. Drama, 1950, 110 minutos.

Existem alguns filmes que são fundamentais para qualquer cinéfilo: Cidadão Kane, O Poderoso Chefão, Psicose, Cantando na Chuva, Casablanca, Luzes da Cidade... a lista é tão longa - muitos possivelmente ainda figurarão nesse quadro - que não caberia nesse texto! Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard), lançado em 1950 pelo versátil diretor Billy Wilder, também é uma dessas obras-primas que devem ser vistas por qualquer pessoa que tenha a intenção de se aprofundar na arte da telona, indo para além dos filmes modernos. É um clássico no sentido mais amplo da palavra, não à toa, figurando na 16ª posição da lista de 100 melhores filmes de todos os tempos do American Film Institute (AFI).


Tendo a indústria cinematográfica como alvo - aliás, interessante notar como este tema era recorrente nas obras da época - Wilder aponta sua câmera cortante, irônica e repleta de metalinguagem e cinismo para a decadente atriz do cinema mudo Norma Desmond (vivida de forma visceral por Gloria Swanson). Desmond passa seus dias em um casarão abandonado, que mais parece uma daquelas mansões mal-assombradas de filme de terror, aguardando pelo momento em que poderá voltar a ser a grande estrela que em algum momento do passado ela já foi - mais ou menos como a insana personagem de Bette Davis, no imperdível O Que Teria Acontecido a Baby Jane? de Robert Aldrich.
A "chance" literalmente bate a porta da atriz, quando o jovem e fracassado roteirista Joe Gill (Holden) aparece, meio sem querer querendo no local. É por meio dele que ela passa a acreditar poder voltar as grandes produções, com uma refilmagem da peça Salomé. À dupla se soma um sinistro mordomo vivido por Stroheim, que, como curiosidade, foi o primeiro marido de Swanson. Aliás, o filme é cheio de boas histórias de bastidores e de participações especiais de atores que, de fato, faziam interpretações na época do cinema mudo - a cena do jogo de cartas conta com a participação de, entre outros, Buster Keaton, um dos principais intérpretes cômicos dos anos 20.
A obra, riquíssima em seu roteiro, cheio de flashbacks, narrações em off e closes - numa espécie de homenagem aos atores do passado, marcados pelo uso intenso da expressão facial - segue sendo uma comédia dramática inovadora, mesmo tendo sido lançada há 65 anos, e que acerta em cheio na máquina recicladora de ídolos que vemos até hoje no cinema, na música e na televisão. Uma crítica feroz a indústria da qual, como consumidores, também fazemos parte. Essencial.


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