quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Pra Ouvir - Renascentes

Não é preciso ir longe pra encontrar música de qualidade. É certo que o Rio Grande do Sul tem histórico de diversas bandas e artistas que deixaram marcas na música brasileira. Mas hoje eu quero falar de uma banda em especial: a Renascentes, de Porto Alegre.

O primeiro álbum, Renascentes (independente, 2014), demorou 7 anos para vir a tona. Mas a espera valeu a pena: são 12 canções, novas e antigas conhecidas dos shows, lapidadas com precisão e formando uma unidade que demonstra toda a diversidade de uma banda extremamente criativa e talentosa. A Renascentes, formada por João Ortácio (voz, guitarra), Alexandre Fritzen (teclas), Átila Viana (baixo) e Dionísio Monteiro (bateria), é difícil de classificar: podemos perceber a influência de movimentos como a Tropicália e bandas como os Mutantes e Beatles, mas não pára por aí. A base principal é o rock, mas há um passeio por diversos estilos musicais. Para entender melhor, vamos às músicas:

O álbum começa com duas das faixas mais acessíveis e pop/rock do disco, Velho Enredo e Raiar, o que é uma ótima estratégia para fisgar o ouvinte logo de cara. O timbre de voz de Ortácio me fez lembrar muito o de Duca Leindecker do Cidadão Quem, mas bastam algumas músicas pra essa impressão desaparecer e ouvirmos uma banda com um som bastante próprio - embora com influências claramente perceptíveis. Mundo Grão tem uma levada bluesy/pinkfloydiana e é uma das melhores. Poema Seco é uma linda balada com guitarras tipo Radiohead, porém sem o experimentalismo. Atrás dos Olhos tem uma introdução com um piano a lá Elton John (!), uma doce melodia e um final estilo 'Hey Jude' que transforma a música em outro destaque do disco. As referências literárias estão presentes, com citações a José Saramago (Todos os Nomes), e Guimarães Rosa (A Menina de Lá), ambas com uma levada que remete à Jorge Ben e ao samba rock. No cardápio de estilos ainda podemos encontrar tango (Há Uma Festa), folk/moda de viola (Pra Lá de Mim) e forró (Sequência). Estranhíssima faz jus ao título, sendo de fato a faixa mais "estranha" do disco. É a mais "porrada" de todas, um tanto experimental, com quebras de andamento e um final com sopros que lembra o jazz experimentado pelo Radiohead no álbum "Kid A" (mais específicamente, a música National Anthem). Amarelo Alegoria é uma canção mais acessível, com pinta de hit.

Pode parecer estranho que faixas com referências tão díspares entre si possam formar um álbum conciso e que faça sentido, mas não é. Mesmo com o longo período de gravação, a produção limpa e certeira de Marcelo Fruet conseguiu criar uma unidade entre as canções, fazendo com que a banda pudesse adicionar às suas influências uma identidade própria, tornando seu som facilmente reconhecível - uma espécie de best of, mesmo sendo este o primeiro e único lançamento do grupo até aqui. Soma-se a isso um excepcional trabalho gráfico, daqueles que nos faz ter vontade de comprar discos físicos e presentear os amigos, e estamos diante de uma obra altamente recomendável pra quem valoriza a boa música e está em busca de novas e interessantes descobertas.

Para ouvir ou baixar o disco é só ir até o site oficial da Renascentes, aqui neste link.


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