quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Novidades em DVD - O Artista e a Modelo

De: Fernando Trueba. Com Jean Rochfort, Aida Folch e Claudia Cardinale. Drama, Espanha/França, 105 minutos.

Recém-chegado às locadoras, o filme O Artista e a Modelo (El Artista y la Modelo, 2013) é, à moda das obras europeias, uma película de silêncios, de longos planos, de reflexões. Na trama somos apresentados a Marc Cross (Rochfort), escultor octogenário já há tempos aposentado, que resolve voltar a ativa após a esposa Léa (Cardinale) oferecer abrigo a uma fugitiva (Folch) do regime de Franco, na Espanha. A jovem, de vinte e poucos anos, passa a morar no atelier de Cross que, pouco a pouco, recupera a vontade de trabalhar, utilizando a moça como modelo.
É deste improvável encontro que, a despeito de tantas diferenças, surgirá não apenas uma relação de "trabalho", mas também uma amizade. Enquanto Cross trabalha dias e dias a fio, de forma calma e paciente, aproveita os intervalos para "doutrinar" a sua modelo em assuntos relacionados às artes, especialmente a pintura. E, neste ponto, é especialmente tocante a parte em que ele explica um pequeno desenho de Rembrandt a jovem, com uma riqueza de detalhes tão interessante que, no fim, também nos faz pensar o quão pouco sabemos sobre o tema.


Filmado todo em preto e branco, em alguns momentos pode fazer lembrar algumas películas dos anos 60, período em que os filmes em cores ainda se constituíam em uma novidade que, aos poucos começava a ganhar espaço. E, a presença de Claudia Cardinale, que tantos filmes clássicos fez - como 8 1/2 de Fellini ou O Leopardo de Visconti, pra citar apenas dois - apenas reforça essa impressão, ainda que, atualmente, ela seja apenas uma senhora de 75 anos. E, evidentemente, não mais a jovem que, quando pós-adolescente, chegou a ganhar concursos de beleza - sendo esse o caminho para que iniciasse a carreira no cinema.
Nesse ponto o filme de Trueba - que faturou o Festival de San Sebastián, na categoria Melhor Diretor, estando presente também em outros festivais - também apresenta um valoroso recurso metalinguístico, já que Léa não demonstra o mínimo ciúme do marido - ao contrário, é uma incentivadora -, tão segura que está de sua estonteante beleza de outrora, reforçada em muitos momentos pelo marido artista. E, ainda que se refira a personagem, é impossível não pensar na atriz na vida real. Tendo a guerra como pano de fundo, a obra peca apenas por não dar uma maior profundidade aos personagens, sempre se limitando a apresentar poucos lados de suas personalidades. O mesmo valendo para os poucos personagens secundários que, no fim, acabam mal aproveitados.

Nota: 7,0




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