De: Terrence Mallick. Com Martin Sheen, Sissy Spacek, Warren Oates e Ramon Bieri. Drama / Policial, EUA, 1973, 94 minutos.
[ATENÇÃO: ESSE TEXTO TEM SPOILERS]
Como nas mais tradicionais histórias de "amor" - ou algo nesse sentido -, o pai desaprova esse relacionamento, naturalmente. Kit é dez anos mais velho do que Holly. Só que Kit também se parece muito com James Dean - inclusive no estilo sedutor e levemente descompromissado. Quando o pai de Holly descobre que ela está se encontrando com Kit as escondidas, lhe dá uma punição exagerada: mata o cachorro da própria garota com um tiro. Esse é só o primeiro indicativo de que as coisas não serão boas. Na tentativa de buscar uma espécie de compensação, Kit resolve confrontar o pai da adolescente. Após uma discussão e a ameaça de ir a polícia, o rapaz abre fogo contra o homem. Tudo com a conivência de uma desolada Holly. Como forma de tentar acobertar o crime, a dupla coloca fogo na casa. Deixando uma gravação que dá a entender que houve um assassinato seguido de suicídio. Enquanto pegam o carro e fogem para uma região isolada do Estado de Montana.
Terra de Ninguém pode não ter o estilo absorto de filmes como A Árvore da Vida (2011) ou Uma Vida Oculta (2020). Ainda assim as seguidas narrações em off feitas por Holly, combinadas com um estilo meio bucólico do enredo - especialmente na segunda parte, quando a dupla busca abrigo no meio do mato, com direito à construção de uma casa improvisada nas árvores, rodeada por riachos, montanhas, caçadas e pescarias - dão o tom que aproximaria a obra das futuras produções de Mallick. Há um quê de novela policial no contexto todo, já que Kit e Holly, como se fossem uma espécie de Bonnie e Clyde dos anos 70, estão sempre em fuga. Quando são encontrados por acaso na floresta, são ameaçados por um trio de caçadores armados. Só que Kit arma uma emboscada e consegue matar os três. A trilha de sangue segue a pleno. Mesmo quando, em rota de fuga, o casal central se encontra com um antigo colega e amigo de Kit, de nome Cato (Ramon Dieri).
Em sua trama, Mallick não parece muito preocupado em evidenciar de onde vem tanta violência - nem as ligações com política, religião ou outros temas. A brutalidade é apenas... a brutalidade. Pior do que tudo isso é assistir a derrocada da personagem de Spacek que, na busca de um amor paternal (um substituto para o próprio pai), se alia a um sociopata perturbado que, de quebra, ainda parece padecer de uma síndrome narcísica (a sequência do terço final em que ele encanta a polícia que está lhe prendendo é trágica e cômica em igual medida). Árido, desesperançoso, de alguma maneira até perturbador, o filme seria elogiado pela crítica em seu lançamento, aparecendo em listas de melhores como a dos 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer. Mais do que isso, pavimentaria o caminho para que Mallick se tornasse um dos grandes diretores de seu tempo.
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