sexta-feira, 7 de julho de 2023

Pitaquinho Musical - Marcelo D2 (IBORU)

"Agora tem esse caminho sem volta para o samba. É mais sobre a minha carreira do que sobre o disco. Ele tem a ver com o que vem pela frente". Foi dessa maneira que Marcelo D2 resumiu, em entrevista à Carta Capital ainda no começo do ano, como seria a sua experiência com o espetacular IBORU que, a época, ainda estava sendo finalizado. Com uma proposta de ser "mais samba e menos rap", o artista carioca realiza uma retomada de temas ligados à ancestralidade, a resistência e a cultura popular entregando uma coleção de canções que atualizam o samba, ao mesmo tempo em que reverenciam o passado e os expoentes do estilo. Dividido em três atos, o álbum inicia com uma maravilhosa sequência de samba mais tradicional, em que se sobressaem canções como Povo de Fé, Até Clarear e Só Quando Meu Samba Morrer - e sinceramente é impossível não abrir um largo sorriso nessa entrada.



No segundo terço, D2 vai para a Bahia, para um samba mais experimental, saído do terreiro de candomblé, em que ritmos e batidas africanas se juntam a bases eletrônicas modernas e cheias de personalidade - sendo o melhor exemplo a visceral Tambor de Aço, um rap comovente que, de acordo com o artista, ajudou-o a se reconectar com Ogum. Na última parte, a música popular se torna mais festiva, como sugerem músicas de título autoexplicativo como O Samba Falará + Alto e Bundalelê. Com participações de nomes diversos como Zeca Pagodinho, Alcione, Mateus Aleluia, Mumuzinho e BNegão, o projeto acerta em cheio no encontro da arte popular com a religião, sem deixar de lado assuntos políticos. "Eu via o rap, o punk e o rock muito mais como resistência e luta do que o samba. Até o momento que eu comecei a compreender que o samba é resistência pra caramba", resumiu em conversa com o UOL. O resultado: talvez o melhor disco de 2023.

Nota: 10


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