terça-feira, 25 de julho de 2023

Pitaquinho Musical - Blur (The Ballad of Darren)

Vamos combinar que o efeito causado pelo Blur é meio curioso. Se por um lado, Damon Albarn e companhia são capazes de lotar estádios - como vinham fazendo em apresentações recentes e pós-pandêmicas -, por outro, parecem ser aquela banda ideal pra festa indie alternativa promovida por aquele bar descolado. E talvez seja justamente essa capilaridade - na falta de uma palavra melhor -, que os torne tão interessantes. Porque se, por um lado, eles são melhores do que ninguém na hora de conceber canções que olham com certo cinismo pra sua Inglaterra natal - aliás, algo que era bastante literal em álbuns como Parklife (1994) e The Great Escape (1995) -, por outro eles sempre foram muito hábeis em investigar sentimentos bastante humanos, colocando no "papel" suas dores, incertezas e temores. Com tudo estabelecendo relação direta com a vida moderna e a mesmice ordinária do cotidiano.



Agora, já na casa dos 50 e alguma coisa, os integrantes da banda poderiam ficar de boas, nas suas casas de campo, fazendo shows aqui e ali, engordando as suas contas bancárias e replicando padrões que eram motivo de deboche no passado. Mas e as inquietações? Em alguma medida o mundo já não é mais o mesmo do que era nos anos 90, quando fazia todo o sentido uma certa análise do provincianismo britânico, que resultaria em clássicos como Country House ou Charmless Man. Atualmente, as pessoas precisam lidar com pandemia, extrema direita, guerras, tecnologias e outros temas que, aqui e ali, ganham eco na voz agridoce e melancólica de Albarn. Sim, ele também teve seus demônios particulares revolvendo suas entranhas - como foi o caso do término de um longo relacionamento (com Justine Frischmann). A vida adulta bateu e não faz mais sentido pensar no britpop sendo esmagado por músicas como Song 2. Assim, The Ballad of Darren, o nono álbum, é um projeto maduro, paciente e melódico, como comprovam as ótimas Barbaric, The Narcissist e The Heights. Bem-vindos de volta!

Nota: 8,5


Nenhum comentário:

Postar um comentário