terça-feira, 8 de novembro de 2022

Novidades em Streaming - Men: Faces do Medo (Men)

De: Alex Garland. Com Jessie Buckley e Rory Kinnear. Drama / Terror / Ficção Científica, Reino Unido, 2022, 100 minutos.

[ATENÇÃO: ESSE TEXTO CONTÉM ALGUNS SPOILERS DE LEVE]

Falar de machismo e misoginia fugindo um tanto do óbvio. Esse é um objetivo que o enigmático Men: Faces do Medo (Men) alcança. Ou ao menos em partes já que, a despeito do título original autoexplicativo - que fala muito por meio de uma única palavrinha -, trata-se de uma experiência complexa e evocativa, mas que parece nos fazer lembrar o tempo todo da dificuldade que é ser mulher em uma sociedade tão patriarcal. O que talvez explique o receio sentido pela protagonista Harper (Jessie Buckley) a cada novo encontro com um homem "diferente", no retiro que ela resolve fazer em um exótico (e enorme) casarão de uma pequena comunidade da Inglaterra, após uma tragédia ter abalado a sua vida. Já na chegada ao local, que ela aluga por meio de algum aplicativo, o senhorio, um homem de nome Geoffrey (Rory Kinnear), parece se comportar de forma esquisita mesmo que ele não seja tão expansivo. Respostas secas, duras, um senso de humor torto que se soma a um provincianismo que sai dos poros. Tudo gera certo estranhamento.

De qualquer maneira não demora para que o espectador perceba que esse retiro meio forçado tem a intenção de expiar traumas: Harper se sente culpada pela morte do marido e, bom, os homens são mestres em fazer a mulher se sentir culpada mesmo quando ela não é. E se livrar desses demônios interiores não será fácil. Hábil, o diretor Alex Garland - do ótimo Ex-Machina: Instinto Artificial (2015) e do mediano Aniquilação (2018) - constroi um suspense que evolui sem muita pressa, nos deixando aflitos mesmo em instantes em que, aparentemente, não acontece nada. Em uma sequência ainda no começo, Harper sai para explorar o entorno do casarão que alugou. É uma pequena propriedade ladeada por uma densa floresta, com simpáticas plantações de lavanda. Ao alcançar um túnel de trem em uma linha férrea abandonada, a protagonista se ocupa longamente de brincar com o eco do local. Executa melodiosos sons. Sorri com essa besteirinha. Até o instante em que ela tem a impressão de não estar sozinha.


E enquanto assistia, fiquei bastante satisfeito ao perceber o fato de não ser necessário nenhum tipo e jump scare apelativo para que fiquemos tensos. Harper foge correndo dali. Há um homem em seu encalço. Pior, um homem nu. Que parece machucado. O que ele pretende? Harper chama a polícia que prende o sujeito. Mas logo o solta. Não há acusação que se sustente. Não há crime. Ele talvez fosse apenas alguém com problemas mentais. Ou não, vai saber. Em seu entorno, a moça vai percebendo que nenhum daqueles homens parece disposto a ajudá-la. Em certa altura ela encontra um jovem ao lado da Igreja que a provoca (usando uma máscara que gera calafrios). O padre chega, ela conta a sua história. O sacerdote a questiona sobre se ela não é a culpada por não ter conseguido sustentar um casamento. E talvez ter sido responsável direta sobre a tragédia que a leva até ali.

Ao cabo trata-se de uma experiência pouco óbvia, que exige do espectador atenção plena aos detalhes. Utilizando elementos do mundo exterior para discutir o turbilhão interior, Garland compõe uma obra poeticamente visual, cheia de contrastes no que diz respeito as cores e aos elementos cênicos. As paredes extremamente vermelhas do casarão são um indicativo do terror que está na mente da mulher em fuga. Como se livrar desse caos que vêm de dentro? Na natureza ela procura a paz, mas será capaz de encontrá-la? Não é um filme que fornece explicações fáceis. Ao contrário, suscitará longos debates, especialmente por incorporar um sem fim de elementos religiosos - a macieira é quase escancarada -, folclóricos, primitivos, ambíguos. E que vão no limite entre o onírico e o real, o imaginário e o concreto. A mensagem como um todo está lá: homens, apenas melhorem. Para que as mulheres não precisem ficar exorcizando-os o tempo todo de suas vidas!

Nota: 8,0


Um comentário:

  1. Melhor filme! Instigante e tratou de forma espetacular a dura realidade nossa de cada dia numa sociedade ainda tão patriarcal e machista. Maravilhoso!!!

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