segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Novidades em Streaming - Athena

De: Romain Gavras. Com Sami Slimane, Dali Benssalah e Ouassini Embarek. Aventura / Drama, França, 2022, 99 minutos.

Caótico. Intenso. Maximalista. Operístico. Violento. Hiperbólico. Essas podem ser algumas palavras na tentativa de definir a experiência vivida com Athena, filme dirigido por Romain Gavras - filho do Costa-Gavras, que possui ampla experiência na direção de videoclipes, tendo trabalhado com nomes como Justice, MIA, Jay-Z e Jamie XX, entre outros. Aliás, de alguma forma, é possível afirmar que o "clima de videoclipe" meio que rege o aparato técnico por trás da obra. Tudo é muito frenético, urgente. Ao cabo trata-se de um esforço bastante completo no que diz respeito a planos, ângulos de câmera, desenho de produção, coreografias, trilha sonora e fotografia (alias, num mundo justo o filme jamais passaria batido nas categorias técnicas do próximo Oscar, dado todo o empenho de sua numerosíssima equipe em dar vida à produção). Só que, bom, enquanto assistia ao filme devo confessar que, mesmo com tantos e justos elogios à parte técnica, senti um pouco de falta de uma maior profundidade na discussão dos temas que, aqui e ali, ficam apenas no "rasinho".

Sim, a história parte de um suposto episódio de violência policial, que vitima o adolescente Idir de apenas 13 anos - um vídeo que circula na internet, garante que o jovem foi "deixado para morrer". E este fato é o que desencadeará uma revolta popular que converterá o Conjunto Habitacional Athena, na França, em uma espécie de fortaleza que servirá como centro ruidoso de uma população que resiste e clama por justiça. Na trama acompanhamos de forma intercalada os três irmãos remanescentes da vítima, Karim (Sami Slimane), Abdel (Dali Benssalah) e Moktar (Ouassini Embarek). Karim é o sujeito absolutamente revoltado com o caso, que não se furtará em arremessar um coquetel molotov em plena Delegacia de Polícia enquanto Abdel, um militar veterano, faz um pronunciamento protocolar sobre "investigações que já estão sendo feitas" e "busca pelos assassinos". 



Esse será o começo de um verdadeiro frenesi de câmeras que giram alucinadamente, de fogos de artifício infinitos, de correrias, de gritos, de tiros aleatórios, de carros em alta velocidade, de motos e de bombas - e o longo plano-sequência inicial, com seus quase 15 minutos de duração e vários quilômetros percorridos sem nenhum CGI ou tela verde, é absolutamente primoroso. De deixar o queixo caído. É tudo tão bem orquestrado, tudo tão bem coreografado que essa estilização toda é que pode resultar num efeito inverso do que se pretende. Enquanto o excelente Os Miseráveis (2019), de Ladj Ly (aliás, um dos corroteiristas) tinha um clima mais especulativo, de violência crescente e de uma maior clareza dos danos causados à minorias raciais pelo Estado, aqui temos um tipo de exagero que nem sempre parece tomar partido - e a existência de um policial "boa praça" (Anthony Bajon), apaixonado pelas filhas, parece estar ali apenas para nos lembrar de quem, bem, "nem todos os policiais, né?", ainda que seja impossível não pensar nos universos distintos que colocam em lados opostos os filhos de pretos e de migrantes e os de brancos de classe média (qual o que morreu mesmo?).

Voltando aos irmãos, Moktar é a terceira ponta do enredo e parece estar pouco se lixando para cada um dos lados, estando verdadeiramente preocupado é com os seus próprios negócios, num esforço comovente, aliás, de não apenas conseguir sair com vida do Complexo, mas levando consigo os objetos que certamente acenam para uma vida na ilegalidade. Indo de lá pra cá, voltando e começando de novo, recuando e avançando, a obra não tem nenhuma vergonha em tornar a coisa grandiosa num nível épico de guerra, com direito a trilha sonora de melodia tribal e policiais que escalam escadas como se fossem orcs em em sequência que antecede alguma invasão em O Senhor dos Aneis (e nem é preciso mencionar à referência óbvia à Grécia antiga). Sim, o esforço de brutalidade e porradaria foi grande. Há ali atrás uma discussão muito forte e respeito do absurdo da violência policial (ou mesmo de grupos de extrema direita, que surgem aqui e ali nas entrelinhas). Mas senti falta desse debate vindo um pouco mais pra frente. Pra além do caos visual, do cassetete cantando, da moto roncando pneu, do fogo sendo ateado. Ok, visualmente tem seu efeito. Mas glorificar tudo isso dá a impressão de que nem sempre paramos pra pensar com um pouco mais de calma sobre o significado de tudo aquilo. A polícia talvez tenha matado um adolescente de 13 anos. E o fato acaba soterrado em toneladas de pirotecnia. O que talvez pudesse ter sido "corrigido" com um tiquinho a mais de sutileza. O que não tira o brilho, claro.

Nota: 8,0


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