De: Ryan White. Com Angela Bassett (narradora). Documentário, EUA, 2022, 104 minutos.
Aqui temos a história das sondas espaciais Spirit e Opportunity, dois veículos exploradores que foram enviados a Marte em 2003 - e que alcançariam o Planeta Vermelho em 2004, com o objetivo de localizar pistas nas rochas e no solo, que pudessem indicar a presença de água no passado. Água potável, no caso. Que fosse possível beber. O que, por consequência, também poderia sugerir a existência de um ambiente propício à vida. Como documentário, o filme se distancia do ideal acinzentado, frio e maquínico que poderia emergir dos cubículos dos laboratórios da Agência - com engenheiros, mecânicos, cientistas e pesquisadores debruçados sobre planilhas e de olhos atentos a computadores - para entregar uma experiência que tenta, de alguma forma, humanizar os robôs. Convertendo ainda a imensidão e o senso de isolamento em um espaço de exaltação do esforço coletivo.
Projetados para terem uma vida útil de apenas 90 dias por causa das complicadas condições climáticas de Marte, Spirit e Opportunity (este, carinhosamente chamado de Oppy) se tornariam prodígios da longevidade - com o primeiro sendo desligado em 2010 e o segundo em 2019, após mais de 5 mil dias de atividades. E essa história particular de perseverança dos dois equipamentos, que enfrentariam não apenas o terreno acidentado, mas também o frio, o calor, as tempestades de areia e mesmo o desgaste natural de suas estruturas - que operariam todo esse tempo por meio de um sofisticado aparato com instalação de placas de energia solar -, funciona como uma espécie de alegoria para as vidas de vários integrantes das equipes e de seu empenho em colocar o projeto em prática. Indo e vindo no tempo, a obra parte do mero esboço, até chegar a consolidação, para depois avançar para a rotina de contato com os robôs. O que faria com que figuras como o cientista-chefe Steve Squyres e a gerente de missão Jennifer Trosper, passassem a considerar as sondas como se fossem parte da família.
E não é por acaso o esforço de todos para o resgate do ânimo quando ambos os robôs passam por alguma desventura, seja alterando a sua lógica de funcionamento, seja colocando alguma "música de despertar" que dialogue com as situações vividas - caso do momento em que, por exemplo, os integrantes utilizam SOS do Abba, após a Spirit ser afligida por um problema mecânico. O mesmo valendo para Here Comes the Sun dos Beatles que aparece após uma severa tempestade, que quase leva Oppy à "morte". Intercalando imagens de arquivo com o belo trabalho gráfico da equipe de efeitos especiais da Industrial Light & Magic, Boa Noite Oppy pode soar meio anacrônico ou deslocado no tempo, agora que as preocupações mundiais parecem bem outras (com pandemia, guerras, ascensão da extrema direita, colapso ambiental e outros). Mas ainda assim se trata de uma experiência simpática, de narrativa fluída, que ainda acrescenta uma ou outra dose de suspense na trama. Tá na Amazon e poderá ser um dos documentários indicados ao Oscar - premiações não faltam. Resta aguardar.
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