De: Ol Parker. Com Julia Roberts, George Clooney, Kaitlyn Dever e Maxime Bouttier. Comédia / Romance, EUA, 2022, 104 minutos.
Um dos problemas de comédias românticas como Ingresso para o Paraíso (Ticket to Paradise) não é apenas o fato de o filme não ter nenhuma graça. O que gera mais estranhamento - ou vergonha alheia - é perceber que quando há uma tentativa de piada, não conseguimos rir nem por pena. Nem por um segundo. Pense naquele tiozão que contava aquela anedota no churrasco de domingo, mas que talvez só tivesse graça nos anos 80. Foi exatamente o que me veio a mente em uma sequência em que George Clooney resolve sacudir o esqueleto ao som de Gonna Make You Sweat do C+C Music Factory. "Uau, olha aí o choque geracional que emerge do pai que faz a filha passar vergonha só porque dança uma música brega dos anos 90", foi o que pensei na hora. Mais ou menos o ápice em termos de senso de humor, de uma experiência que mais parece inimiga do riso.
E, confesso que durante a projeção - aliás, parêntese, resolvi dar uma chance justamente por causa de Clooney, que contracena com Julia Roberts - me senti tão incomodado que até coisas que normalmente passariam meio batido começaram a inquietar. Na trama Clooney e Roberts são o "casal" David e Georgia. Ele, aparentemente, um arquiteto (nem isso consegui ter certeza). Ela, atua em uma galeria de arte moderna - ainda que, na única sequência em que ela apareça em seu trabalho, é para tirar sarro de um quadro que está na parede ("ele está virado?"). Separados há muitos anos, ambos deixam suas vidas pessoais pra trás - compromissos, agendas, amigos, relacionamentos - para tentar demover a filha Lily (Kaitlyn Dever) que, em uma viagem de férias a Bali após a formatura no curso de Direito, conhece um nativo da ilha paradisíaca e, bem, considera uma excelente ideia ficar ali para casar. Talvez apenas uma semana após conhecê-lo.
Sim, essa boa dose de suspensão de descrença é parte do que vai dando um certo cansaço conforme o filme evolui. Lembrando: um filme sem graça. Uma comédia de chorar de ruim. E que, de quebra, ainda tem um romance insípido, com zero química - aliás, vamos combinar que chega a ser constrangedor o instante em que Lily esconde um pacote gigantesco de camisinhas de seu pai por que, uau, ele não pode saber que ela transa. Sério? Esse tipo de infantilidade que advém de um roteiro anêmico também transforma David e Georgia em duas pessoas que entram em férias involuntárias enquanto, pacientemente, aguardam o enlace de Lily. Quer dizer, em partes, já que eles estão no local pra tentar fazê-la desistir desse "projeto" - até mesmo porque, como manda a boa, velha e anacrônica cartilha de Hollywood, é simplesmente impossível para uma mulher jovem ser feliz no amor e também no trabalho. É um ou outro. E, no caso, ela opta pela vida paradisíaca ao lado de Gede (Maxime Bouttier), um bonitão que cultiva algas no local.
Sério, é preciso acreditar muito no amor pra achar que esse tipo de coisas funcionaria na vida real. Ainda mais em um mundo tecnológico, moderno, urgente. Fora a amiga Wren (Billie Lourd) - sim, sempre tem uma amiga que é exageradamente bonita pra fazer a esquisita -, não há mais ninguém na vida de Lily? Não há nenhum apego ao seu local de nascença? À cidade, a vida urbana? Bom, de qualquer maneira a gente nunca saberá do passado dela. Da rotina, do cotidiano. O mesmo vale para a vidinha de David e Georgia, que no tempo todo em que estão em Bali, são incapazes de responder uma mensagem de whatsapp que seja pra avisar que eles vão se atrasar um pouco para seus compromissos. Para pagar o boleto. Para pegar leite no mercadinho. Clooney e Roberts já provaram seu talento: têm carisma, são simpáticos, queridíssimos pelo público. E isso acho que torna o desastre ainda maior. E pra não dizer que a tragédia é completa, há algumas boas locações. Mas, se eu quisesse um guia de viagens, eu procurava na internet. No caso aqui pretendia rir e me emocionar com um filme. Mas só consegui ficar indiferente. E me irritar.
Nota: 1,5
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