De: Stéphane Brizé. Com Vincent Lindon, Sandrine Kiberlain, Anthony Bajon e Marie Drucker. Drama, França, 2021, 96 minutos.
Estando do lado dos poderosos - em Em Guerra, Lindon era um transpirante líder sindical - Lemesle deve encontrar certo equilíbrio na tentativa de agradar CEOs da multinacional, acionistas, o mercado e outros interessados que movimentam o dinheiro, ao mesmo tempo em que tentará de todas as formas não sobrecarregar os trabalhadores remanescentes, que serão orientados a produzir mais, com menos (o que poderá gerar certa indisposição com o sindicato e com outros coletivos que apoiam os operários). Sim, exatamente aquela conversa que costumamos ouvir bastante sobre a importância de enxugar e ser ao mesmo tempo eficiente - ainda que essa noção seja muitas vezes mais aplicada quando o assunto são as empresas estatais. E se não bastasse todo esse pepino pra resolver e o estresse decorrente dele, o protagonista ainda está com severos problemas domésticos, já que seu casamento parece estar chegando ao fim justamente pelo fato de o sujeito se dedicar tanto ao trabalho - sendo um pai e marido ausente, que possui pouca ou nenhuma qualidade e vida (ou mesmo qualquer apreço pelos prazeres cotidianos).
Encontrar uma forma de encaixar todas essas melancias em uma carreta, será que o acompanharemos durante a uma hora de meia que a obra - que estreou nessa semana na plataforma Mubi. Assim, veremos Lemesle saindo de uma reunião decisiva sobre o divórcio com a futura ex-esposa Anne (a sempre ótima Sandrine Kiberlain, que também é figura recorrente na filmografia de Brizé), para no instante seguinte estar em uma sala apinhada de supervisores que discutirão os detalhes do projeto de reestruturação e os caminhos para implantá-lo. Em um outro momento, um encontro com líderes do sindicato também contribuirá para esse efeito cascata, que se converterá em uma enorme bola de neve de tensões. E não é por acaso que Brizé inclui aqui e ali algumas cenas prosaicas do cotidiano, como um jogo de bola com o filho deficiente ou uma conversa amistosa dentro do carro com Anne, como se esses fiapos de vida doméstica, vindos desse pequeno microcosmo de calor ou compaixão, servissem para afastá-lo de todas essas angústias. Fazendo-o inclusive repensar algumas de suas decisões (e há uma em especial que ele tentará pôr em prática e que surpreenderá a todos).
Ainda que bastante verborrágico, repleto de conversas infinitas sobre assuntos corporativos, feitos em pequenos gabinetes, o filme jamais se torna enfadonho. Para o público é importante compreender o quão bizarro é esse mecanismo que envolve as grandes corporações da iniciativa privada e como, inevitavelmente, sempre será a ponta mais fraca a que sofrerá mais. "Você sabe, quem manda está em Wall Street", afirma um superior de Lemesle em certa altura. E isso certamente explica o fato de não haver um grande protagonista entre os trabalhadores, afinal, para aqueles homens, os empregados representam apenas números (e se uma funcionária de mais de 50 anos já não tem a agilidade para produzir tanto, por quê mantê-la, né?). Pesado em alguns instantes, comovente em outros, o diretor aposta em tomadas e enquadramentos bastante próximos dos personagens o que, somado a fotografia naturalista, parece nos tornar mais íntimos daquele universo. Assim como na obra de Ken Loach não há muito espaço pra redenção aqui. Nesse mundo que estamos - há outro possível, como sugere o título original? -, se faz o que está ao alcance na tentativa de barrar a destruição promovida pela máquina trituradora do capitalismo. E se tenta seguir a vida.
Nota: 8,5
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