De: Pablo Larraín. Com Kristen Stewart, Sally Hawkins, Timothy Spall e Jack Farthing. Drama, EUA, 2021, 116 minutos.
E isolamento aqui acaba por ser uma espécie de palavra-chave na jornada que acompanhamos e que evidenciará a hipocrisia da aristocracia inglesa. Circulando pelos cômodos e pelos jardins dos castelos reais, Diana conversará aqui e ali com empregados - especialmente com a camareira Maggie (Sally Hahwins), uma espécie de confidente. Em cada conversa a jovem princesa demonstrará sua insatisfação com uma vida vazia, oca, recheada por convenções sociais enfastiantes e por uma rotina de poucas novidades (ainda que de voluptuosa riqueza). Filantropa e atenta a causas sociais, Lady Di se tornaria uma personalidade influente nos anos 90 - e seu comportamento levemente iconoclasta, provocativo, dá conta justamente de sua espontaneidade, de sua vontade de viver, de querer mais. Algo evidenciado não apenas pela relação amável com os filhos William (Jack Nielen) e Harry (Freddie Spry), mas também pelas sucessivas "quebras de protocolo" que ela se permite.
Aliás, o filme já inicia com um desses momentos que mostram o contraste entre as formalidades da vida palaciana e o pouco rigor de Diana. Enquanto o Palácio de Buckinham se prepara para um luxuoso jantar - a operação, com direito a aparato militar e ingredientes condicionados em imensos e higiênicos contêineres, quase lembra os procedimentos adotados em uma guerra -, a princesa circula livremente de carro pela propriedade, alegando estar perdida. É a desculpa para que ela se aproxime de sua antiga residência em Norfolk para "roubar" a roupa de um espantalho - a peça teria pertencido a seu pai, o conde Spencer. É a partir desse episódio que compreenderemos, com a adoção de uma série acontecimentos envoltos em simbolismos - alias, algo típico nas obras do diretor Pablo Larraín, como no caso do recente Ema (2019) - que Diana está insatisfeita. Aliás, o sentido figurado é tanto, que a protagonista lê um livro sobre Ana Bolena, rainha decapitada pelo próprio marido, no caso o Rei Henrique VIII, que a acusava de traição (sendo que era ele o traidor).
Essas pequenas alegorias dão força à narrativa da mulher de modos mais simples, que se vê perdida em um universo que parece cada vez mais distante de sua realidade. Sendo esse contexto das metáforas reforçado pelo uso de tons mais quentes ou vibrantes em sequências mais tensas - como na cena do jantar, em que Diana se "alimenta" de forma inadequada, ou no momento em que Charles a desafia diante de uma ampla mesa de bilhar com um vigoroso tecido vermelho. A riqueza de detalhes, aliás, impressiona, seja nos amplos cenários externos ou mesmo nos claustrofóbicos cômodos palacianos. Já a celebrada interpretação de Stewart - que lhe rendeu a aguardada primeira indicação ao Oscar - é naturalista, sem excessos, equilibrando a vulnerabilidade e a força, a desesperança e a atitude (e aqui menciono, novamente, a cena do jantar, em que o silêncio desesperador do olhar de Stewart fala mais do que qualquer palavra). É uma obra completa, cheia de nuances e que se consolida como uma das melhores desse começo de temporada.
Nota: 9,0
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