quinta-feira, 24 de março de 2022

Novidades em Streaming - Amor, Sublime Amor (West Side Story)

De: Steven Spielberg. Com Ansel Elgort, Ariana DeBose, David Álvarez, Rachel Zegler e Mike Faist. Drama / Romance / Musical, EUA, 2021, 156 minutos.

Quem assistiu e gosta da versão clássica de Amor, Sublime Amor (West Side Story) talvez considere meio desnecessária essa refilmagem produzida por Steven Spielberg. Mas, ao mesmo tempo em que a essência da história permanece a mesma, não deixa de ser curioso perceber como, neste caso, uma nova adaptação faz muito bem. Sim, eu tendo a ser meio ranzinza quando o assunto é a falta de originalidade de alguns roteiros, afinal, será que precisa? Precisa um novo Homem Aranha todo santo ano? Mas aqui a desconfiança vai pro saco já na primeira e grandiosa tomada aérea do bairro de Upper West Side, em um plano sequência de uma Nova York meio em ruínas, que passa por um processo de gentrificação. É nesse local que duas gangues, os Jets, o grupo dos branquelos liderados por Riff (Mike Faist), e os Sharks, os porto-riquenhos comandados por Bernardo (David Álvarez), disputam o território, sendo incapazes de conviver de forma pacífica

E tudo piora quando, durante um baile, os dois grupos se encontram e organizam uma briga de rua que promete decidir o futuro de todos. Ao mesmo tempo em que Tony (Ansel Elgort) e Maria (Rachel Zegler), que estão em lados opostos nessa disputa, se apaixonam. Sim, extraída dos palcos da Broadway no final dos anos 50, Amor, Sublime Amor é a história shakespereana por excelência - e, não por acaso, foi inspirada em Romeu e Julieta. Tecnicamente soberbo, o filme parece consertar alguns pontos do clássico de Robert Wise que, nos dias de hoje, poderiam soar meio datados. Na obra dos anos 60, por exemplo, parece haver uma menos disposição para o debate sobre xenofobia e a possibilidade de convivência pacífica entre povos diferentes - e a presença de Rita Moreno, que interpretou a Anita no original, funciona como uma espécie de esteio que conecta esses lados opostos (especialmente por não recair na mera nostalgia).

Já Ariana DeBose entrega uma Anita muito mais empoderada - sim, eu sei que a palavra anda meio batida - no que diz respeito à comportamentos e atitudes, e confesso que é simplesmente apaixonante vê-la em cena, pelo equilíbrio perfeito que ela alcança entre a entrega física e de personalidade (e a indicação ao Oscar na categoria Atriz Coadjuvante, nesse sentido, não é por acaso). Ainda sobre a premiação máxima do cinema - que ocorre no próximo domingo (27/03) -, a obra foi nominada também nas categorias Filme, Direção, Fotografia, Figurino, Desenho de Produção e Som. E se há algum motivo real para conferir essa refilmagem este certamente envolve o aparato tecnológico, que transforma Amor, Sublime Amor em uma experiência artística imersiva, colorida e musical, mas sem deixar de lado os aspectos mais sombrios de sua história (e o equilíbrio de cores e tons entre os instantes mais divertidos, mais alegres e aqueles mais soturnos também é um dos tantos méritos).

Um bom exemplo das pequenas inovações trazidas por Spielberg estão nos cenários - como no caso do depósito de sal, que serve como base para a disputa central, e que deixa o episódio mais claro, mais limpo, aos olhos dos espectadores. O mesmo vale para as coreografias empolgantes e executadas à perfeição, que são complementadas pelas canções que integram-se à narrativa de forma orgânica - e eu adoro a forma como músicas como America, I Feel Pretty e Gee, Officer Krupke parecem ter outras tintas na refilmagem. Discutindo de passagem temas como sororidade, violência doméstica e preconceito racial, o filme se aproveita de seu recorte narrativo para passar uma mensagem bastante clara em um contexto de polarização: e só esse fato já justificaria a existência de uma obra como essa. Feita pelo Spielberg, então, um dos maiores diretores de cinema vivos, é a cereja do bolo. Veja. Pra ontem. Mesmo que você não tenha assistido o do Wise. Na real, nem será necessário.

Nota: 9,0

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