sexta-feira, 17 de abril de 2015

Disco da Semana - Passion Pit (Kindred)

Existem algumas bandas que caminham tão no limite da linha divisória que separa o som alternativo do pop, que fica praticamente impossível categorizá-las, estando pautado apenas por esta simplificada dicotomia. E é preciso que se diga que esse é caso dos americanos do Passion Pit. Desde o lançamento do seu primeiro álbum, Manners, de 2009, o grupo de Cambridge consegue uma proeza nem sempre fácil: reunir numa mesma pista de dança da boate descolada o fã de música indie que aguarda ansiosamente por Rebellion (Lies) do Arcade Fire e a patricinha impecavelmente vestida que, ao lado das amigas da faculdade, dança freneticamente ao som de Roar, da Katy Perry.  E isso não é pouca coisa em um mundo em que as categorizações musicais chegam a ter nomes tão diferentes como freak folk ou dream pop.

Essa sensação de "cruza" de música comercial, com aquela consumida pelos chamados hipsters apenas se ampliou com o lançamento do absolutamente explosivo, dançante e divertido Gossamer de 2012. Utilizando-se de teclado, sintetizador, baixo e bateria, o grupo comandado por Michael Angelakos compila uma sequência de canções tão grudentas e pegajosas, cheias de vocais em falsete, ô ô ôs, corais e outros barulhinhos, que seria capaz de fazer a Lady Gaga corar. Se ela tivesse vergonha de alguma coisa, claro. E se você nunca escutou canções como Take a Walk, I'll Be Alright, Carried Away e Mirror Sea que estão no já citado disco, faça um favor a si mesmo: ouça agora! Especialmente se você for fã de Maroon 5. Ou de Vampire Weekend. Sei lá também. Vocês escolhem.



A propósito do disco anterior, é bem provável que ele tenha se tornado, com o passar do tempo, uma espécie de problema para a banda. Afinal de contas, como superar o "monstro" criado por Angelakos e companhia? Bom, a tentativa ocorre agora, com o recém-lançado Kindred - e talvez a capa do álbum, que mostra um guri assustado em meio a uma reunião de família traduza bem esse sentimento. Ainda que não alcance resultado tão impactante como o de Gossamer, o trio entrega, novamente, uma boa leva de composições, que servirão para fazer a festa (literalmente) dos fãs. Canções como Lifted Up (1985), All I Want, Until We Can't (Let's Go) e My Brother Taught me How to Swim mantém o clima animado, como se a moçada resolvesse ficar um pouco mais na festa.

Só que, como se já tivesse se preparando pra um ressacão que virá no dia seguinte, a banda também parece desacelerar em alguns momentos, como em Whole Life Story, Looks Like Rain e na irritante Ten Feet Tall (II), que exagera nas brincadeiras eletrônicas, com distorções vocais que, desde a época em que a Cher cantava no rádio, não apareciam. O clima de pós-festa é reforçado por algumas letras, que se não chegam a ser tão melancólicas como as do trabalho anterior - sim, há uma contradição entre os arranjos geralmente festivos e os versos nostálgicos e que remetem a desventuras amorosas -, aparecem como mecanismo que reflete a alegria por (re)encontrar uma paixão, um amor antigo ou mesmo um amigo. Algo bem tradicional na música pop, diga-se.

Nota: 7,5


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