terça-feira, 21 de abril de 2015

Cinema - Vício Inerente

De: Paul Thomas Anderson. Com Joaquim Phoenix, Josh Brolin, Owen Wilson, Reese Whiterspoon, Katherine Waterston e Benício Del Toro. Comédia / Policial / Drama, EUA, 2015, 149 minutos.

Se tem uma coisa que o diretor Paul Thomas Anderson - de obras soberbas como Magnólia, Sangue Negro e O Mestre - sabe fazer muito bem em seus filmes é respeitar o espectador. Ao nem sempre entregar para o público obras de fácil absorção ou mesmo dotadas de alguma complexidade - alguém aí falou em chuva de sapos em meio a projeção? - PTA (como é conhecido), parece muito mais interessado em encarar o cinema como uma experiência, seja ela visual, sonora ou mesmo sensorial, do que em produzir um tipo de filme palatável, com começo meio e fim - e que, convenhamos, é o padrão adotado em Hollywood desde sempre. E isto é exatamente o que ocorre com o recém-lançado Vício Inerente (Inherent Vice), adaptado da mirabolante obra de Thomas Pynchon, lançada em 2009.

Vício Inerente é uma espécie de noir, semelhante a obras como Chinatown, de Roman Polanski, que se passa nos anos 70 e que nos apresenta a um detetive particular (Phoenix) - que mais parece o personagem vivido por Nicholas Cage no recente Vício Frenético, do diretor Werner Herzog, onde ele interpretava um investigador viciado em vicodin e cocaína e que, eventualmente, realizava seu trabalho em estado letárgico. No caso de Phoenix, a droga em questão é a maconha e é abusando dela, que o detetive, de nome Doc Sportello, vai "tentar" esclarecer o caso que envolve o sumiço de sua ex-namorada (Waterson) e o assassinato de um milionário (Eric Roberts), que pode ter sido vítima de sua esposa e do amante. Tudo em meio a perseguições sofridas também por Sportello, já que um certo tenente Bigfoot (Brolin), não sai de seu "pé" - com o perdão do trocadilho.



Mas esse é só o fiapo da história, já que, conforme o filme avança, somos apresentados a uma série de outros personagens e de subtramas nem sempre bem desenvolvidas, mas que, metaforicamente, simbolizam o permanente estado de confusão mental vivido por Sportello. Não à toa, em meio as investigações, ele tem de conviver com acusações de assassinato e de envolvimento com casos de corrupção e de tráfico de drogas. O que faz com que nos perguntemos, de forma permanente, se aquilo que vemos na tela se trata da realidade ou de mais uma das viagens do detetive. E as idas e vindas dos personagens, os encontros e desencontros - com algumas participações especiais - contribuem para o clima de aparente "confusão". Tudo embalado em um colorido psicodélico, com penteados e figurinos bem ao estilo da época, o que dá um charme a mais a película.

Ao incluir no filme discussões relacionadas ao governo Nixon, a contracultura, aos neonazistas, aos Panteras Negras, aos hippies, ao sonho americano e até a investigação do assassino em série Charles Manson, Anderson constroi um panorama de um período marcante da história americana. E que, traduzido para os dias atuais, bem poderia ser representado pelo debate ideológico entre o conservadorismo um tanto opressor - representado por Bigfoot e seus "comparsas" corruptos - e os sujeitos a margem da sociedade, as minorias, ou mesmo as almas de espírito livre - caso de Sportello. E ao percebermos todas as peças se encaixando no terço final, ao organizarmos todos os pontos abordados por esse grande filme, é que temos um momento de iluminação, bastante semelhante ao vivido pelo nosso protagonista, ao perceber qual o real interesse das grandes corporações, por um grupo de drogados.

Nota: 8,5


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