quarta-feira, 8 de abril de 2015

Disco da Semana: Death Cab for Cutie (Kintsugi)

Conforme consta na WikipediaKintsugi é o nome dado à arte tradicional japonesa de restaurar cerâmicas quebradas utilizando-se pó de ouro, prata ou platina. Ou seja, reúnem-se os cacos de algo belo que foi quebrado e tenta-se restaurar, com resultados muitas vezes ainda mais bonitos - mesmo que as "cicatrizes" permaneçam visíveis e como parte da história daquele objeto. A metáfora aqui é óbvia e certeira, e serve de mote para a temática do décimo e mais novo álbum da cultuada banda americana Death Cab for Cutie.

O grupo - inicialmente planejado pelo líder, compositor e vocalista Ben Gibbard como um projeto solo - insere-se na categoria indie-rock ou, mais precisamente, indie-pop, se levarmos em consideração os seus últimos lançamentos. Famoso por ter sido citado diversas vezes na série The O.C., o Death Cab for Cutie sempre foi conhecido pela temática sentimentalista das letras, sendo muitas vezes rotulado como uma banda emo, embora sem o "chororô" de seus similares de gênero. Sofisticação nos arranjos e uma beleza inerente às canções sempre foram características da banda, principalmente nos soberbos álbuns Transatlanticism (2003) e Plans (2005) - e aqui não é diferente, embora sem a mesma força das obras já citadas.


Com uma sonoridade limpa e alguma eletronice (resquícios do álbum anterior, Codes and Keys, de 2011), Kintsugi já começa direto ao ponto com No Room In Frame e seus versos sobre um relacionamento fracassado e a vida que segue. Difícil ouvir versos como "We'll both go on and get lonely with someone else" e não associar ao processo de divórcio de Gibbard (que foi casado com a atriz e cantora Zooey "Summer" Deschanel). Black Sun, a faixa seguinte e primeiro single do disco, dispara: "there is beauty in a failure". E por aí o disco segue, com seus lamentos amorosos - nada muito original, mas interpretado de forma sincera e sem dramas em excesso com uma bela roupagem pop.

Kintsugi é um disco fácil de se ouvir e que flui sem maiores problemas. Devido a homogeneidade das composições fica difícil apontar destaques, mas confesso que uma faixa trouxe aquela sensação de que aqui o grupo me faria retomar a mesma emoção de quando o conheci: Everything is a Ceiling possui eletrônica e guitarras em perfeita harmonia, com uma bela melodia para uma letra melancólica. De produção limpa, o Death Cab for Cutie se afasta cada vez mais das guitarras em alto volume do início de carreira e cuja retomada foi esboçada no álbum Narrow Stairs, de 2008. Que a boa arte costuma brotar dos momentos difíceis não é novidade e, embora não seja lá uma obra-prima, Kintsugi chega em boa hora nos trazendo um pouco mais de beleza e leveza para dias tão repletos de ódio.

Nota: 7,5.


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