No pequeno clássico moderno O Pagamento Final (Carlito's Way, 1983), de Brian De Palma, Al Pacino vive um gângster que, recém-saído da cadeia, quer andar na linha pela primeira vez em muitos anos. Não demora muito para o seu próprio advogado - quem não lembra do Sean Penn de cabelos cacheados? - o envolva em uma trama de violência, corrupção e tráfico de drogas. De alguma forma Abel Morales (Isaac), protagonista de O Ano Mais Violento (A Most Violent Year), de J. C. Chandor, vive situação semelhante a de Pacino no já citado filme. Não que ele seja um bandido, longe disso. O problema é que ele herdou do sogro - esse sim, um famoso gângster nova-iorquino - uma empresa que produz combustíveis. E quer fazer todos os procedimentos da maneira mais correta possível, para ficar bem distante dos olhos da lei.
Só que a trama se passa em 1981, ano em que Nova York teria registrado os maiores índices de violência de sua história. Assim, não eram incomuns assaltos, roubos, furtos e assassinatos. E, Abel, como um bem sucedido empresário da indústria petrolífera, inevitavelmente se tornará um dos alvos favoritos de saqueadores que, em plena luz do dia, não hesitarão em assaltar seus caminhões abarrotados de combustíveis - que mais tarde serão comercializados como carga roubada, sendo comprados pelos próprios concorrentes do protagonista. Enfim, uma espiral de violência, sendo ela em muitos casos psicológica, de difícil solução para quem pretende se comportar de acordo com o que prega a moral e os bons costumes. E que coloca em risco não apenas os motoristas da empresa terceirizada que trabalha para Abel, mas todos que o rodeiam.
Em meio a esse contexto, Abel ainda pretende adquirir uma nova área para armazenamento dos seus produtos, junto a baía do rio Hudson, o que poderá facilitar a logística, ampliando também o espaço disponível para estocar a mercadoria. Algo que só será possível, se ele estiver com o nome limpo na praça - já que nenhum banco aceitará emprestar dinheiro a ele se seu nome estiver diariamente na "ronda policial" da rádio local. J. C. Chandor, que, após o ótimo Até o Fim (All is Lost, 2013), parece estar se especializando em sujeitos vivendo em situações limite, se inspira claramente em filmes de gângsteres dos anos 70 e 80 - sendo mais claras as referências a Chinatown e a O Poderoso Chefão. O que pode ser observado na adoção de uma elegante fotografia amarelada, aliada a personagens com personalidades complexas.
Tentando roubar a cena, Jessica Chastain aparece como a charmosa Anna, a esposa que, ao mesmo tempo em que tenta ser compreensiva com o marido, parece exigir deste uma maior capacidade de ação diante do perigo que ronda a família. E a cena em que ela não hesita em executar uma gazela agonizante que acabara de ser atropelada, é um claro indicativo da natureza um tanto mais direta no quesito "resolução de conflitos" de sua personagem. Equilibrando bem os momentos de suspense com os de drama, o filme ainda entrega uma cena de perseguição digna de um Operação França, clássico policial dos anos 70. Além de possuir coadjuvantes de luxo, como David Oyelowo, na pele de um promotor público. Todo um contexto que fez com que a obra passasse "raspando" no Oscar desse ano.
Nota: 8,0
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