quinta-feira, 9 de abril de 2015

Cine Baú - Quem tem Medo de Virgínia Woolf?

De: Mike Nichols. Com Elizabeth Taylor, Richard Burton, George Segal e Sandy Denis. Drama, EUA, 1966, 131 minutos.

Precursor do estilo filme-sobre-lavação-de-roupa-suja-em-família-feito-em-estilo-teatral, o clássico Quem tem Medo de Virgínia Woolf? (Who's Afraid of Virgínia Woolf?), de 1966, marca não apenas a estreia do diretor Mike Nichols - que mais tarde filmaria outras grandes obras como A Primeira Noite de Um Homem e Perto Demais - mas também uma das melhores interpretações da dupla Elizabeth Taylor e Richard Burton. Na pele do casal de meia-idade Martha e George, eles saem de uma festa discutindo sobre a participação da atriz Bette Davis em um filme antigo. Aquilo que poderia ser um prosaico debate entre dois intelectuais - ele, um professor universitário, ela, a filha do reitor - se torna um drama brutal repleto de mágoas e ressentimentos, que vêm a tona após a chegada na casa de um outro casal de convidados - os jovens Nick (Segal) e Honey (Dennis).

Nick é um recém-contratado professor da mesma universidade em que George leciona e vai até a residência dos protagonistas, por indicação do pai de Martha. Só que as duas da manhã, com uma boa quantidade de bebida alcoólica já consumida e com um clima hostil já na chegada, a promessa de uma noite tortuosa se confirma conforme passam os minutos - que, dado o incômodo, chegam a parecer intermináveis em alguns momentos. O clima é paranoico, com George e Martha envolvendo o jovem casal em uma espiral capaz de refletir a decadência de duas pessoas em crise de meia-idade, que apenas usam os seus convidados como desculpa para uma série de agressões verbais (e até físicas) e para insolentes joguinhos que deixarão os traumas e as feridas de todos ainda mais expostas.


Como forma de tornar o clima ainda mais angustiante, Nichols filma seus protagonistas com uma série de planos fechados e de closes oblíquos, que geram uma sensação ainda maior de claustrofobia. Baseada em peça de Edward Albee, o obra recebeu classificação indicativa como proibida para menores de 18 anos. Algo reforçado pelos diálogos rasgantes e repletos de ofensas. Martha só se diverte quando ri como uma hiena afirma George em certo momento. George não tem iniciativa, é um verdadeiro bundão contra-ataca Martha. Martha só fica enjoada quando está em um sanatório, retruca George. George faz qualquer um vomitar diz Martha. E assim segue a noite, com as agressões de parte a parte atingindo, em muitos casos, Nick e Honey que, acoados, só conseguem beber, numa tentativa desesperada de fuga.

O filme foi tão bem recebido pela crítica, que foi indicado para 13 estatuetas no Oscar de 1967, tendo ganho Atriz (Taylor) e Atriz Coadjuvante (Dennis), além de Direção de Arte, Fotografia e Figurino. Mesmo próxima de completar 50 anos, a obra se mantém poderosa, sendo influência clara para outras películas mais recentes como Deus da Carnificina, Qual é o Nome do Bebê? e até para o nacional Querido Estranho. Cheio de deliciosas histórias de bastidores - Taylor e Burton eram casados na vida real e se divorciaram mais tarde, em 1973 - o filme até hoje é considerado uma das melhores adaptações de um original de teatro transposto para as telas, aparecendo no 67º lugar na lista de 100 melhores do American Film Institute (AFI). Um clássico digno do nosso Cine Baú!


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