quinta-feira, 2 de abril de 2015

Picanha em Série - The Walking Dead (5ª Temporada)

[SPOILER ALERT]: se você ainda não assistiu a quinta temporada da série, e não quer "estragar" as surpresas, recomendamos que você não leia este texto.

O último episódio da quinta temporada de The Walking Dead foi ao ar no último final de semana, dividindo opiniões, e gerando grandes expectativas para os fãs, em relação aos eventos futuros da série produzida por Frank Darabont (dos filmes Um Sonho de Liberdade e A Espera de Um Milagre) e Greg Nicotero, entre outros. O grupo comandado por Rick Grimes (Andrew Lincoln) chegou, e se estabeleceu em Alexandria, uma espécie de forte capitaneado por uma mulher, Deanna (Tovah Feldshuh), que teria sido congressista no passado. Isso ocorreu após encontrarem, no caminho para Washington, o jovem Aaron (Ross Marquand), que disse haver um lugar inteiramente protegido em que poderiam reiniciar suas vidas, com disponibilidade de casa, comida, água, chuveiros elétricos e camisetas coloridas.

Ocorre que, após tudo o que o grupo passou nas temporadas anteriores, especialmente nos episódios que envolveram a destruição da fazenda e da prisão e, no início da quinta temporada, do terminal, anda difícil acreditar em qualquer sujeito que apareça prometendo a salvação, roupa lavada e uma cama fofinha - como se fosse político em época de campanha. O bando está embrutecido. Calejado. Sofrido. No início da temporada, Rick e companhia chegam ao tal terminal - após uma reta final bastante lenta da season four (ainda que recheada de momentos emocionantes). O local logo se mostra uma armadilha para capturar pessoas que possam servir aos líderes do Terminal - "servir", inclusive no sentido gastronômico. O resultado é um fogo cruzado sem precedentes e um início de temporada eletrizante, com a Carol (Melissa McBride), sendo a salvadora da pátria, após ter sido deserdada por Rick.



Após a fuga do local, o grupo conhece um novo personagem, o padre Gabriel (Seth Gilliam), que lhes dá abrigo em uma pequena capela no meio do mato. A série segue no ritmo inicial, com alguns integrantes do terminal ainda vivos, que seguem ameaçando a trupe - o que resultará na dramática morte de Bob (Lawrence Gilliard, Jr.). Falando em morte, após o desaparecimento de Beth (Emilly Kinney), que é encontrada "sem querer querendo" por Carol e Daryl (Norman Reedus, o nosso mestre) é que ocorre um dos momentos mais desoladores da série: quando, num desentendimento com a policial Dawn (Cristine Woods), no hospital, Beth é baleada e morre. Como desgraça pouca é bobagem, no episódio seguinte é a vez de Tyreese (Chad Coleman) "bater as botas", numa das mortes mais estúpidas envolvendo protagonistas até agora - mordido por uma criança zumbi, enquanto investigava a casa em que Noah (Tyler James Williams) morava.

Nesse contexto, a equipe já sabe que Washington DC é uma farsa e que o "pesquisador" Eugene (Josh McDermitt) mentiu ao dizer haver uma esperança de cura para o apocalipse zumbi. Ainda assim, o grupo resolve ir a pé, percorrendo os 160 quilômetros que os levariam até a capital americana, tentando manter a sanidade e alguma esperança. Como fã, o 10º episódio da temporada é um dos melhores e um dos que mais possui significados a respeito da atual condição vivida por Rick e companhia. Caminhando por uma estreita estrada interiorana (num belo trabalho cenográfico), o grupo bem poderia ser confundido com um amontoado de zumbis. Algo bastante emblemático na sequência em que o grupo de Rick caminha a frente, trôpego - com sede e fome -, sendo perseguido por uma horda de zumbis, alguns metros atrás.


E é justamente ao confundir o grupo de Rick com possíveis zumbis travestidos de humanos é que percebemos que, no fim das contas, aquilo que ainda poderia restar de humanidade nesses sujeitos, pode estar se perdendo a cada momento de pressão, de sofrimento, de angústia. Quando Aaron surge, cheio de boas vontades, todos ficam desconfiados (inclusive nós, espectadores), pois sabemos que, no mundo atual, os zumbis são o menor dos inimigos - e a elegência de Michonne (Danai Gurira), trucidando os mortos-vivos com a espada é um bom exemplo disso. Depois do Governador e do Terminal, Rick fará de tudo para manter os seus vivos - mandando a moral para o beleléu. A cena em que pergunta, após uma confusão em Alexandria, "quantos terá de matar para fazer o grupo viver?" também é um indicativo disso.

Todos desconfiam de todos e há um grande mérito do roteiro (fielmente adaptado dos quadrinhos, ao que me consta), nesse sentido: em um lugar aparentemente pacífico (Alexandria), haverá lugar para Rick e os seus, depois de tudo o que fizeram e passaram? Não à toa, em certos momentos, a impressão que fica é de que Rick, Daryl e companhia estariam, sim, se tornando os verdadeiros vilões da série, pelo rastro de morte que deixam, onde quer que passem. Ainda que o final da temporada tenha deixado uma ponta solta sobre a existência de um outro grupo (os Wolves), que poderá se tornar o real inimigo da sexta. O fato é que, novamente, a série fechou sua temporada de forma satisfatória, ao apostar nos questionamentos morais envolvendo os protagonistas, como fio condutor de uma série de tramas paralelas. Ainda que a relativa lentidão possa ter desagradado alguns.

A presença de Morgan (Lennie James), visto pela última vez na terceira temporada, a beira da insanidade, também deixa uma pimenta para o início da sexta temporada, uma vez que o encontro entre ele e Rick se dá exatamente no instante em que o segundo está assassinando Pete (Corey Brill). Pra finalizar, dispensam comentários a estética - a fotografia sempre amarelada traduz bem a palidez do mundo atual -, a maquiagem e as mortes zumbis, a cada vez mais divertidas. O figurino para essa temporada também passou por uma curiosa modificação, após a chegada em Alexandria. E vai dizer que ainda combina ver a Carol vestida com camisas e roupas da vovó ou Rick embalado em uma roupa de policial? Conhecendo o grupo como o conhecemos, eu diria que não. E que venha a sexta!


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