terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Novidades em Streaming - Glass Onion: Um Mistério Knives Out (Glass Onion: A Knives Out Mistery)

De: Rian Johnson. Com Daniel Craig, Janelle Monáe, Edward Norton, Kate Hudson, Kathryn Hahn e Dave Bautista. Comédia / Policial, EUA, 140 minutos.

Acho que o segredo pra se divertir com Glass Onion: Um Mistério Knives Out (Glass Onion: A Knives Out Mistery) é reduzir ao máximo as expectativas. Foi com esse espírito que fui conferir essa continuação de Entre Facas e Segredos (2019) - que está disponível na Netflix. E foi assim que consegui me entreter durante pouco mais de duas horas. Por que, afinal, o que a gente espera de um filme que mistura suspense e comédia (nesse caso, mais comédia do que suspense)? Dar algumas risadas? Ser surpreendido? É isso. E tudo começa pelo elenco absurdamente carismático - e não dá pra não ficar envolvido acompanhando Edward Norton na pele de um magnata da área da tecnologia, Kate Hudson como uma influencer do mundo da moda, Kathryn Hahn encarnando uma política da ala progressista, Leslie Odom Jr. como um cientista meio picareta ou Dave Bautista, que interpreta um sujeito famoso na plataforma twitch por seus vídeos equivocados e machistas - mas que atraem uma horda de fãs. Todos ali são amigos e estão entre os convidados de Miles Brown (Norton) para um final de semana em uma ilha paradisíaca grega, da qual é proprietário.

E o começo do filme não poderia ser mais divertido, com Birdie Jay (Hudson), Claire DeBella (Hahn), Lionel Toussaint (Odom Jr.) e Duke Cody (Bautista), recebendo um enigmático estereograma - um baú com uma ilusão de ótima que, quando destravada, possibilitará aos destinatários acessar oficialmente o convite de Miles. Miles, pelo visto, é um fã de charadas, de adivinhações e de quebra-cabeças misteriosos e tem o hábito excêntrico de convocar seus amigos para que eles, justamente, participem de uma espécie de jogo. Aqui, no caso, o mistério envolve a própria morte do anfitrião - de mentirinha, claro. Só que a presença da antiga sócia de Miles na ilha, Andi Brand (Janelle Monáe) e, mais do que isso, do detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) em pessoa, gerarão certo estranhamento no grupo. Sobre a primeira, ninguém imaginava que ela fosse até e ilha, mesmo tendo sido convidada (ela teve perdas em um imbróglio jurídico no passado, que estremeceu as relações). Já, Blanc, bom, para Blanc é tudo ainda mais estranho já que ele sequer foi convidado. Ainda que alegue ter recebido o convite/baú.


Como nas clássicas histórias de mistério à moda da Agatha Christie - e que já marcariam a primeira experiência da saga -, não é preciso ser muito adivinho para saber que algo errado, ali adiante, vai acontecer. A tensão parece estar por toda a parte, movida por segredos do passado e, mesmo personagens secundários, como a assistente de Jay, Peg (Jessica Henwick) ou a namorada de Cody, Whiskey (Madelyn Cline) poderão ter lá suas motivações para algum tipo de atitude criminosa. Ou não? Para o espectador caberá ir descasando essa espécie de cebola translúcida com uma série de camadas, na intenção de enxergar o que está no centro. Sim, algumas vezes pode parecer bem óbvio, outras nem tanto. Mas parte da diversão vem justamente nesse processo de suspensão da descrença que envolve aceitar aquilo que se está assistindo como algo dentro do campo das possibilidades. Até mesmo porque os diálogos e situações funcionam.

Um bom exemplo desse conjunto satisfatório envolve a facilidade com que Blanc resolve o enigma de Miles, já na primeira noite de jantar - um passo a passo impressionante, descritivo e muito bem montado. Mas é claro que tudo não passará de desculpa para que nos mantenhamos atentos, em meio a chantagens, conversas cheias de segredos pelos corredores e pistas espalhadas - especialmente após um crime real acontecer debaixo do nariz de todos os presentes! É um tipo de quebra-cabeças de baixa complexidade que nos deixa satisfeitos conforme vamos acompanhando o encaixe das peças - ou os rumos do roteiro. Se permitindo, aqui e ali, uma ou outra crítica ao vazio atual do culto às (sub)celebridades - especialmente as do universo das big techs ou do mundo da moda - a obra de Johnson ainda tem um final maior do que parece ser. É catártico. Explosivo. E hilário. 

Nota: 8,0


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