De: Ti West. Com Mia Goth, Brittany Snow, Martin Henderson, Jenna Ortega e Kid Cudi. Suspense / Terror, EUA, 2022, 106 minutos.
Se tem uma coisa que gosto nesse subgênero do slasher pós-terror que tem como cenário uma cidade pequena aleatória do sul dos Estados Unidos, é essa capacidade de gerar suspense ou medo por meio de uma simples imagem estática (ou não) - seja ela uma casa de madeira decadente, um idoso decrépito que surge no cenário de fundo, ou mesmo o matagal denso que se mescla com restos de entulho enferrujado. O que poderia parecer um simples nada, em uma obra como X: A Marca da Morte (X), para além das homenagens ao estilo, é tudo. Ainda no começo do filme, por exemplo, a jovem Maxine (Mia Goth) entra em um lago daqueles típicos do interior, rodeado por vegetação nativa. A imagem aérea vai do bucólico ao tenso em questão de segundos, quando percebemos a existência de um jacaré dentro da água. Um daqueles elementos que quebra essa lógica de suposta calmaria. E que vai aos poucos nos preparando para outros, maiores, e, certamente mais perturbadores, problemas.
E não é de hoje que caipiras do interior dos Estados Unidos - à moda de O Massacre da Serra Elétrica (1987) misturado com Amargo Pesadelo (1972) - despertam medo. Formado por aquele grupo de pessoas idosas, brancas, patriotas, anacrônicas e muitas vezes preconceituosas. Que gostam do Trump - e do combo Igreja, espingarda e gado - e que, muito provavelmente, se orgulham de seus antepassados, que lutaram ao lado dos escravagistas na Guerra da Secessão, eles não poderiam ser vilões melhores para um grupo de jovens do Texas com a libido lá no alto, que está procurando alguma propriedade isolada da área rural do Estado para gravar um filme pornô caseiro. O ano é 1979 e a popularização desse tipo de fita parece ser uma realidade, o que faz o produtor Wayne (Martin Henderson) se juntar aos candidatos a astros Bobby-Lynne (Brittany Snow) e Jackson (Kid Cudi) para uma série de gravações em uma fazenda erma, ocupada por um excêntrico casal de octogenários.
Aliás, a "acolhida" do sexteto - além de Maxine, Wayne, Bobby-Lynne e Jackson, completam o time o cinegrafista RJ (Owen Campbell) e a produtora e namorada deste Lorraine (Jenna Ortega, antes do furor causado por Wandinha) - não poderia ser pior: desconfiado daquilo que ele considera uma invasão, o anfitrião Howard (Stephen Ure), um idoso decrépito que mais parece saído de um filme b de zumbis, já os recebe de espingarda na mão. "Se isso é uma invasão de propriedade eu tenho o direito de atirar em você", grita para um surpreso Wayne. É um sinal - mais um - de que as coisas dali pra frente não correrão bem. E, bem, estamos em uma produção norte americana que homenageia esse tipo de obra em que pessoas que transam e são bem resolvidas sexualmente, tendem a sofrer. A morrer. De preferência com mortes dolorosas, que fariam o Deus do Velho Testamento se orgulhar. E, nesse sentido, talvez não seja por acaso a presença persistente de um televangelista que surge de forma recorrente sempre que a TV da casa está ligada. Ou mesmo a conveniente fotografia granulada, esmaecida, que contribui para que se crie a ambientação ideal para o horror.
Sim, porque ao cabo, por mais que o filme se repita em alguns padrões, ele jamais deixa de exalar personalidade, especialmente ao discutir nas entrelinhas os efeitos da hipocrisia da sociedade, do fanatismo religioso, do apego às convenções e até da sexualidade e dos fetiches - e a frase proferida por Maxine mais de uma vez, lembrando que "não aceitará uma vida que não mereça" também é um ideal de reconhecimento dessa lógica. Já em outro momento, após a chegada à cabana e o estranhamento do contato com o velho anfitrião, Wayne comenta: "nós excitamos as pessoas. E isso as assusta". Com um senso de humor ferino, a obra é hábil na homenagem e na conexão com o passado, como no instante em que RJ morre apunhalado por uma sequência brutal de facadas, executadas com uma edição de cortes rápidos e de sangue vermelho vibrante que jorra (bem adequada para alguém que se diz um fã de Psicose). Um cenário pacífico, plácido, tranquilo. O interior dos Estados Unidos e as suas mais profundas camadas e perversidades. Escondidas em galpões e em porões. O banho de sangue que nem a polícia conseguirá compreender. As famílias de bem também dão medo. E podem assustar muito mais do que os espíritos sobrenaturais.
Nota: 8,5
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