sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Pitaquinho Musical - Muse (Will of the People)

Dia complicado pra quem amanheceu querendo falar mal do novo disco do Muse, Will of the People. Até mesmo porque, vamos combinar, se tem uma banda que encontra matéria-prima farta no combo pandemia, colapso ambiental, guerra, ódio nas redes sociais, extremismo político (especialmente o de direita) e outros temas é o coletivo capitaneado por Matt Bellamy. Deixando um pouco de lado as firulas eletrônicas e os excessos de todo o tipo que marcariam trabalhos dispensáveis como Drones (2015) e Simulation Theory (2018), aqui, o coletivo recolhe os cacos que sobraram da nossa atual distopia para buscar uma sonoridade mais orgânica, de fácil digestão. Assim, não é difícil pra quem se formou musicalmente ouvindo clássicos modernos como e Black Holes and Revelations (2006) se apaixonar por canções pegajosas Ghosts (How Can I Move On) ou You Make Me Feel It's Halloween.


Já o single Compliance consegue ser mais Muse que o próprio Muse com seu sintetizador oitentista cheio de vigor, refrão grudento e uma letra que parte da perspectiva da existência de uma espécie de organização que pretende cooptar pessoas fragilizadas, com promessas de segurança, proteção, amparo e remoção da dor (Você está correndo com medo, você vai correr para os nossos braços / Venha se juntar ao nosso grupo, nós vamos mantê-lo a salvo de danos / Nosso soldado de brinquedo, você vai fazer o trabalho sujo). E, sinceramente, quando ouvimos músicas do tipo, é simplesmente impossível não pensar em certos grupos extremistas que atraem os vulneráveis com discurso alienante - algo bastante adequado aos nossos tempos. Sim, o Muse é uma banda política desde sempre. Mas em seu nono trabalho eles conseguiram unir o apocalipse às ótimas canções. Os fãs agradecem.

Nota: 8,0


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