De: Gastón Duprat e Mariano Cohn. Com Penélope Cruz, Antonio Banderas, Oscar Martínez e Irene Escolar. Comédia / Drama, Argentina / Espanha, 2021, 115 minutos.
Na trama, um magnata da indústria farmacêutica que acaba de completar 80 anos - seu nome é Humberto (José Luis Gómez) - resolve investir parte de sua riqueza na produção de um filme. Ele pretende deixar algum legado mais "simbólico" do que uma mera ponte ou qualquer outra construção que leve o seu nome. E para adaptar o fictício livro Rivalidade - vencedor do Nobel de Literatura - ele contrata a nada ortodoxa diretora Lola Cuevas (Cruz) que, com métodos absolutamente excêntricos, levará a loucura os atores Felix Rivero (Banderas) e Iván Torres (Martínez). O primeiro, é o galã boa pinta que costuma estrelar filmes populares e que faz sucesso em premiações comerciais como o Globo de Ouro e o Goya. Já o segundo é um afetadíssimo e presunçoso ator de teatro, que parece ser um tanto ressentido por nunca ter alcançado maior sucesso junto ao público (a despeito de seu talento e de sua aptidão para os festivais de cinema alternativo como supõe a conquista da Copa Volpi concedida em Veneza).
Juntar os dois em um filme sobre dois irmãos que se tornam rivais após o trágico falecimento dos pais - com o envolvimento direto de um deles no acidente que os vitima - será como jogar gasolina em uma espécie de versão hétero, branca e hispânica de O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (com direito a traições e traumas envolvendo ambos, quase ao estilo daqueles perpetrados por Bette Davis e Joan Crawford). Em meio aos dois, Lola se esforçará para manter os egos o menos inflados possíveis, propondo exóticos exercícios de interpretação durante o ensaio, como forma de conectá-los de forma mais intensa a seus personagens (e eu, sinceramente, fiquei angustiado e embasbacado em instantes em que uma pedra de cinco toneladas tem "papel" determinante no processo ou mesmo naquele em que a destruição das estatuetas que premiaram ambos os atores é feita de forma deliberada com o uso e um triturador). É tudo meio curioso e divertido e, aqui e ali, parece servir como uma espécie de alerta que envolve essa permanente necessidade de aprovação que esse universo eventualmente reforça.
Outro ponto que merece destaque é o fato de os personagens que vemos na tela dialogarem de forma tão evidente com a vida real de Banderas e Martínez - e basta pensar na carreira de ambos os atores para vermos como há uma espécie de rima envolvendo as suas personalidades fictícias (do filme) com as reais. E é mais ou menos nesse ponto que a sátira não apenas nos hipnotiza, mas também nos dribla - como evidencia o instante em que, tragicamente, Felix revela estar com um câncer terminal no pâncreas. Repleto de divagações, de sutilezas, de camadas e de piadas sobre o meio, o filme adota um aparato técnico modesto, a despeito do cenário curioso - e aqui há mais uma ótima gag sobre uma instituição de caridade de fachada, que serve para que Humberto exerça a sua filantropia de faz de conta -, apostando nos diálogos e nas interpretações como forma de dar envergadura à narrativa. Em linhas gerais não há nada para além da caricatura ou um grande sentido mais profundo - como a própria Lola argumenta nas "entrevistas" de divulgação. Mas diverte e até surpreende. Como de praxe na filmografia da dupla.
Nota: 8,5
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