De: Ron Howard. Com Viggo Mortensen, Colin Farrell, Sahajak Boonthanakit, Joel Edgerton e Tom Bateman. Drama, EUA, 2022, 149 minutos.
"Eu esperava que as duas primeiras se afogassem e então teríamos de fazer algo diferente. Coloquei suas chances de sobrevivência em zero." A frase dita pelo doutor Richard Harris em entrevista à National Geographic, dá conta do quão inacreditável foi a proeza alcançada por ele - um experiente anestesista - e por uma equipe de mergulhadores que, em 2018, impediu que uma tragédia que comoveria (e mobilizaria) o mundo, fosse ainda pior. Eu confesso que lembrava vagamente da história do time de futebol de jovens tailandeses que, ao lado de seu treinador, ficaria preso na caverna de Tham Luang, no norte do País, após uma inesperada inundação que ocorreu devido às fortes chuvas. Era época de Copa do Mundo e muito se falava sobre o assunto. E do quão impossível seria resgatar qualquer um dos adolescentes com vida. E é justamente esse spisódio tão improvável que é recontado no emocionante Treze Vidas: O Resgate (Thirteen Lives), que estreou recentemente na Amazon Prime.
Sinceramente é impossível não derrubar lágrimas com a obra, que foi filmada com a habitual competência por Ron Howard - que parece recuperado do fracasso com Era Uma Vez Um Sonho (2020). Na trama acompanhamos os esforços de mais de cinco mil pessoas de dezessete países, que se empenharam durante mais de duas semanas na intenção de levar os jovens para casa. O que envolveria uma operação que beirava o impossível, com direito a aplicação de sedativos nos meninos, para que eles pudessem vencer em segurança os mais de dois quilômetros de águas subterrâneas, em cavernas apertadas, e cheias de obstáculos. Sim, se fosse apenas um filme e não a vida real dificilmente acreditaríamos que os doze garotos mais o seu treinador seriam retirados do local em estado de inconsciência (mas vivos!). E essa estratégia ter funcionado deveria ser uma grande lição para todos nós sobre como a união de esforços pode ser fundamental para que a vida seja preservada. Para que as crises e dificuldades sejam superadas.
Naquele contexto pouco importava se havia disputas políticas entre países ou imigrantes que estavam na Tailândia de forma ilegal. O que movia a todos - governo, integrantes do exército, representantes de organizações, agricultores do entorno e população em geral - era um objetivo só: retirar o máximo possível de pessoas das profundezas das cavernas, antes que as chuvas se ampliassem, o que tornaria tudo ainda mais difícil. Na hora de revisitar o drama, Howard não perde tempo. A entrada dos jovens na caverna ocorre nos primeiros quinze minutos - apenas as suas bicicletas e apetrechos ficam na saída do local (em meio à figuras sagradas, místicas, típicas do budismo, a religião que prevalece no País). E, a partir de então, com a chegada da notícia às autoridades, é montada a operação, indo desde tentativas de adentrar o local (algumas frustradas), a ansiedade envolvendo parentes e amigos do lado de fora, os esforços das autoridades locais e até os pedidos de socorro a outras nações - com a chegada, por exemplo, dos experientes mergulhadores Rick Stanton e John Volanthen, vividos por Colin Farrell e Viggo Mortensen respectivamente.
Mas aqui não estamos diante da história do white savior por excelência. Sem abandonar tudo o que aconteceria no entorno para que a operação fosse bem sucedida, Howard mostra como centenas de voluntários trabalharam no topo das montanhas na intenção de desviar a água da chuva, canalizando-a para a base das montanhas (o que faria, por sinal, produtores de arroz perderem toda a sua safra, de forma deliberada, também pelo objetivo maior, sendo ressarcidos, após, pelo seguro do governo). Tecnicamente impecável, a obra se consiste em uma experiência absurdamente claustrofóbica, quase insana - e mais de uma vez eu me vi pausando o filme para respirar fundo, enquanto acompanhava os esforços daqueles verdadeiros heróis. Simples, direta, a trama também tem como ponto positivo o fato de respeitar o dialeto local e a cultura do País envolvido, apontando a câmera para muitos outros ângulos além do rosto de Mortensen e Farrell (o que amplia o senso quase documental da obra). Emocionante, dramática, sufocante, tensa, essa é daquelas produções tipicamente hollywoodianas. E que nos fazem torcer muito para que tudo dê certo ao final.
Nota: 8,0
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