De: Fernando León de Aranoa. Com Javier Barden, Almudena Amor, Manolo Solo, Óscar De La Fuente e Fernando Albizu. Comédia, Espanha, 2021, 115 minutos.
Só que em meio a sorrisos amarelados e um clima de "união da equipe", o caso é que talvez as aparências enganem. Passando por dificuldades financeiras - a chamada reestruturação - a indústria precisou desligar alguns empregados. E um desses, de nome Jose (Óscar De La Fuente), não apenas protestará veementemente contra esta medida, como se instalará em um terreno público em frente à indústria para reivindicar seus direitos. Com faixa, megafone, carro e tudo! O que pode ser desastroso para quem pretende manter inabalável a reputação. E como se não bastasse esse problemão, conforme a semana avança, outros conflitos emergirão, como no caso de um sócio antigo que não consegue se focar no seu trabalho por causa de problemas familiares, das trocas de favores no ambiente corporativo, das traições, assédios e adultérios (que se mantém em segredo mas que parecem prontos para vir à tona) e de outros embates desse universo.
À despeito da temática mais séria, tudo é conduzido pelo sempre ótimo diretor Fernando León de Aranoa - do excelente Segunda-Feira ao Sol (2001), também estrelado por Javier Barden - de forma debochada, cínica, o que leva as situações quase ao limite do suportável. Não foram poucas as vezes em que me peguei gargalhando do absurdo provocado pelas inesperadas reviravoltas, que envolvem outras discussões que bordejam a narrativa e que vão do abuso de autoridade, passando pelo provincianismo chulo, até chegar à xenofobia e ao machismo. Um bom exemplo disso se dá em um dos tantos momentos de irritação de Blanco, diante do comportamento condescendente de seu vigilante, incapaz de tomar uma atitude mais dura em relação à Jose: "você vai ficar contra a empresa que te alimenta?", pergunta o patrão, num daqueles casos típicos de assédio moral que, certamente, fazem a alegria de um bom advogado trabalhista.
Histriônica e exagerada, a experiência - que venceu o último Prêmio Goya, foi a enviada ao Oscar desse ano pela Espanha e está disponível no Star+ - pode soar meio extravagante para alguns paladares. E tenho a certeza de que posso adivinhar algumas pessoas assistindo ao filme e dizendo "nossa, nem é assim que acontece nas empresas, que injustiça com esses homens bondosos que dão emprego e que fazem a economia girar". Sim, talvez soe hiperbólico em alguns momentos. Mas os detalhes são tão bem encaixados, o roteiro é tão bem costurado, que é simplesmente impossível não se identificar com as situações. Rir delas. Como se estivéssemos em uma coleção de esquetes sobre o quão patética pode ser essa ânsia pela boa imagem (e por mesquinharias em geral). Idosos se sacrificando? Estagiárias sendo abertamente assediadas? Empregados sendo demitidos sem muita explicação? Meritocracia desenfreada? Crimes? Violações? Qual nada. Nessa ópera da vida o que vai importar lá no final, é a plaquinha de excelência na estante. Com um falso equilíbrio de forças prevalecendo. É apenas um dos filmes do ano.
Nota: 10
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