sexta-feira, 29 de julho de 2022

Picanha em Série - Barry (Temporadas 1-3)

De: Alec Berg e Bill Hader. Com Bill Hader, Sarah Goldberg, Henry Winkler, Stephen Root e Anthony Carrigan. Comédia / Policial, EUA, 3 Temporadas, 2018-2022.

Vamos combinar que a premissa de Barry, exibida pela HBO Max, não poderia ser melhor. Na trama acompanhamos Barry Berkman (Bill Hader), um veterano da guerra do Afeganistão que, de volta aos Estados Unidos, atua como assassino de aluguel. Designado para um "trabalho" em Los Angeles - matar um personal trainer de nome Ryan (Tyler Jacob Moore), que seria o pivô de uma traição amorosa envolvendo alguém da máfia chechena -, Barry acabará em uma escola de teatro onde, por vias meio inesperadas, se incorporará ao grupo de atuação coordenado pelo excêntrico Gene Cousineau (Gene Winkler). No local, após uma aula improvisada, ele conhecerá a jovem aspirante a atriz Sally Reed (Sarah Goldberg, em ótima caracterização) e, bom, maravilhado com encantador mundo das artes ele passará, naturalmente, a se questionar sobre o seu propósito de vida. E, óbvio, se retirar do mundo do crime não será tarefa tão fácil, afinal, o rastro de violência o acompanhará. O que colocará em risco as pessoas ao seu redor.

E, é preciso que se diga que, a despeito dos componentes policialescos e de mistério de cada um dos 24 episódios distribuídos em três temporadas, o que temos aqui é uma excelente série de humor. Isso explica, por exemplo, o comportamento histriônico e cheio de ambiguidades de figuras como Monroe Fuches (Stephen Root) e NoHo Hank (Antonio Carriga) dois criminosos que vão no limite do cômico e do trágico com suas ações. E que serão os responsáveis por dificultar a saída de Barry desse contexto de violência. Fuches é o contratante do protagonista. NoHo é alguém que ficará incomodado quando, ainda no primeiro episódio, Barry encontrar  alguma dificuldade para colocar em prática o assassinato de Ryan. O resultado do impasse será o sequestro de Barry e Fuches pelos chechenos, sendo a salvação para ambos executar um último crime, que envolve a morte de um rival do cartel da Bolívia. Claro, tudo uma ótima desculpa pra manter esses universos tão distantes - o das artes e o do crime - de alguma forma conectados.

Em meio a tudo haverá ainda a onipresença dos investigadores de polícia Janice Moss (Paula Newesome) e Loach (John Pirruccello), que se empenham em juntar as pistas sobre a morte de Ryan: eles sabem que a máfia chechena está por trás, mas também parecem desconfiar de que há algo errado na história toda que, como não poderia deixar de ser, respingará em Cousineau e nos demais alunos, dos quais Ryan era colega (incluindo, obviamente, Barry). E tudo piorará quando o veterano professor de teatro se apaixonar por Janice. Indo de lá pra cá, o roteiro acompanha a rotina dos integrantes da escola de atores - especialmente Sally e sua eterna ambição em ser uma atriz de renome (o que envolve um sem fim de audiências fracassadas em emissoras de TV e atrações pouco empolgantes) -, enquanto Barry luta para manter a sua vida dupla em segredo. E não é preciso ser nenhum adivinho pra saber que, lá pelas tantas, a coisa desanda. E as linhas que correm em paralelo se encontram.

Divertida, caótica, levemente iconoclasta, a série já recebeu mais de 40 indicações ao Emmy. Misturando interpretações de Shakespeare com piadinhas sobre um bandido que se comunica apenas por gifs animados com imagens de gatinhos a atração discute, aqui e ali, questões morais e como certas decisões podem impactar a vida dos envolvidos - e as sequências de flashback de Barry na guerra, nos auxiliarão a compreender quais os seus traumas e, consequentemente, as suas motivações. Melhorando a cada temporada, a série chega a terceira em seu auge - o que pode ser comprovado pela hilariante sequência em que o protagonista utiliza um aplicativo para detonar uma bomba (sem muito sucesso) ou mesmo na ótima cena em que Sarah descobre que o show que ela protagoniza é cancelado pela plataforma de streaming que detém os direitos, apenas 12 horas depois de lançado (o que evidencia a dinâmica cruel da busca incessante por cliques que move a indústria de consumo moderna de cultura). Ninguém quer ter, afinal, uma sentença de morte decretada nesse meio. Mas, para evitá-las será necessário mais do que grandes interpretações.


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