terça-feira, 24 de maio de 2022

Pitaquinho Musical - Ethel Cain (Preacher's Daughter)

Indo na contramão do Tik Tok e de outras modalidades de consumo cultural instantâneo, a americana Ethel Cain converte o seu álbum de estreia, Preacher's Daughter, em uma experiência que convida o ouvinte a um mergulho mais profundo para algum lugar do passado onde, no interior dos Estados Unidos, a jovem protagonista intercala a missa de domingo em meio a estradas de terra, com as expectativas pela chegada à vida adulta e a quebra de ciclos na busca por um lugar no mundo. Trata-se de um projeto bastante confessional, que mistura Bruce Springsteen e Taylor Swift, transformando a lenta evolução das canções em uma espécie de conto americano clássico, que perpassa gerações. "É sobre como a vida de várias mulheres se interliga e se completa", afirmou em entrevista à Pitchfork.


De hits como American Teenager, a músicas de títulos autoexplicativos como A House In Nebraska ou Family Tree o registro equilibra uma suntuosidade quase elegíaca - reflexo da criação em uma família religiosa (seu pai era pastor) - com o pop lento e soturno de contemporâneas como Lana Del Rey ou Sharon Van Etten. Essa ambiguidade também se reflete nas letras melancólicas, nostálgicas e otimistas que, de alguma forma, desconstroem o conceito de "sonho americano", meio à moda dos filmes alternativos de festivais. Um bom exemplo disso tudo está em Ptolomaea, um tour de force de mais de seis minutos, em que Ethel enfrenta seus demônios estando, aparentemente, sobre efeito de drogas (Que medo um homem como você traz a uma mulher como eu / Por favor não olhe para mim). Visceral.

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