De: Sebastian Meise. Com Franz Rogowski, Georg Friedrich e Thomas Prenn. Drama, Áustria / Alemanha, 2021, 118 minutos.
Pouco preocupado em mostrar os bastidores - ou mesmo o lado mais burocrático desses encarceramentos -, o diretor Sebastian Meise centra a narrativa no interior da prisão (nas celas minúsculas, nos pátios pouco convidativos, nos salões cheios de concreto e de estruturas metálicas) e, consequentemente, na completa falta de sentido desse tipo de detenção. Especialmente para quem já vinha de uma longa estada em campos de concentração. Andando aqui e ali em meio aos outros presos, Hans estabelece algum tipo de relação com Viktor (Georg Friedrich), o assassino com quem divide a cela. E por mais deformada que essa amizade pareça, será justamente ela que fará com que o protagonista não perca completamente a sua humanidade. Aos trancos e barrancos, em meio a encontros e desencontros, a dupla se ajudará, seja fornecendo um cigarro ou improvisando uma tatuagem. E, bom, não é preciso ser nenhum adivinho pra saber que essa parceria poderá avançar para algo a mais, especialmente em um contexto de tão profunda solidão.
Ao cabo, trata-se de uma obra sobre empatia. Sobre compreender e respeitar o outro. E até sobre amor. Por maiores que sejam as diferenças. Com sutileza, Meise vai pincelando a experiência com pequenos instantes que denunciam o absurdo do comportamento preconceituoso - e não deixa de ser curioso notar como a prisão por homossexualidade é capaz de provocar reações mais exacerbadas do que aquelas que envolvem crimes reais. Da mesma forma, o diretor pontua os avanços da dupla central de forma econômica, apostando em gestos, em olhares ou em pequenas atitudes que vão clareando o todo - tudo com ambiguidade, sem nunca parecer exagerado. E mesmo os saltos narrativos - o filme se passa em três linhas temporais diferentes, em 1945, 1957 e 1969 -, ocorrem de forma bastante orgânica, com os eventos de cada período servindo para fortalecer a ideia que a obra pretende difundir. E nunca é demais lembrar do quão bizarro é criminalizar alguém por amar/gostar/ter desejo por alguém do mesmo sexo.
Tecnicamente bem executado, o projeto até se arrisca mais em um ou outro plano sequência ou mesmo no uso da luz (ou da falta dela) como um recurso quase sufocante em alguns momentos - embora em linhas gerais tudo seja muito discreto, econômico (a trilha sonora, por exemplo, quase inexiste). Mas o destaque mesmo são as interpretações, a entrega dos atores - e Rogowski mais uma vez dá um verdadeiro show em sua capacidade de comunicar muito com seu esguio corpo ou mesmo com seus olhos oblíquos, o que amplia a percepção acerca de sua versatilidade. No fim esta é uma obra de resistência, de pacificação, uma espécie de ode ao progressismo, que avança para uma nota mais otimista ao final, ainda que não haja exatamente uma grande surpresa nesse contexto. Vencedor do Prêmio do Juri na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, o filme vem para comprovar a qualidade da safra internacional desse ano.
Nota: 8,5
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