terça-feira, 4 de junho de 2024

Cinema - Guerra Civil (Civil War)

De: Alex Garland. Com Cailee Spaeny, Kirsten Dunst, Wagner Moura, Jesse Plemons e Stephen Henderson. Drama / Ação, EUA, 2024, 109 minutos.

Talvez esse tenha sido um dos maiores clickbaits cinematográficos da história recente. Bom, admito não saber se foi proposital ou não o fato de nomear a obra de Guerra Civil (Civil War) pra chamar a atenção, mas em um contexto de avanço da extrema direita, de xenofobia, de crise climática, de conflitos armados e até de pandemia, parecia bastante atrativo imaginar uma produção que agrupasse esses temas - e, em alguma medida, nos fizesse refletir como sociedade. Mas o caso é que o filme mais recente de Alex Garland - dos ótimos Ex-Machina: Instinto Artificial (2014) e Men: Faces do Medo (2022) - consegue a proeza de ser um filme sobre política, mas... sem política. Ao cabo é uma produção meio do centrão que, ao investir em sequências de violência gratuita em um road movie bem americano, parece apenas querer dizer pros espectadores que "olha só, galera, a guerra não é uma coisa muito legal e não tem um lado bom nessa história toda".

Só que o problema em ser tão raso é o risco de enfraquecer o ponto que, vá lá, talvez pudesse ser justamente uma das fortalezas da narrativa. Ok, o caos social está instalado, mas, pra qual o caminho trilhar? E, vamos combinar que quando assistimos a tantas cenas violentas no nosso cotidiano, afinal de contas hoje em dia todo e qualquer sujeito possui uma câmera fotográfica em mãos - elas recebem o nome de smartphones -, essas sequências apelativas e gráficas apenas são apenas banais. Ao cabo, essa parece ser uma experiência importante do ponto de vista da temática, mas meio que deslocada do seu tempo. Pra começar, essa categoria dos fotojornalistas não é que não exista mais em 2024 - mas eu garanto a vocês que a produção de conteúdo nos dias atuais (ou mais ainda em um futuro próximo) é bem diferente do que seria, sei lá, nos anos 70. E talvez esse filme fizesse sentido na Guerra da Secessão, se é que já houvesse daguerreótipos em circulação à época. E talvez assim não me irritasse tanto certo romantismo com que a jovem fotógrafa Jessie (Cailee Spaeny) trata a sua arte. Que talvez ali adiante uma AI faça com mais esmero. Sem nem estar no front pra isso.


 

Aliás, os fotógrafos em si são um caso a parte, já que são tão estereotipados que beiram a irritação - e acho que nem se o Michael Bay fizesse um filme sobre o tema, de debruçaria tanto em lugares-comuns. Além de Jessie, a jovem deslumbrada de 23 anos que tem na experiente Lee (Kirsten Dunst) a sua heroína (ainda que conheça pouco sobre ela para além da Wikipédia), há um veterano do New York Times que, supostamente, representa um tipo de jornalismo que está sendo suplantado, mas que se for preciso salvará a todos no último momento - papel do experiente Stephen Henderson -, e, por fim, Joel (Wagner Moura), o homem de meia idade e de masculinidade meio frágil, que sente tesão por tiroteios e que, sei lá, talvez funcionasse melhor em um mesacast com machos-alfa abordando as delícias do armamentismo. Lugar-comum fortalecido pelo fato de ele choramingar como uma criança no momento que se depara com a crueza do conflito (o que, de forma paradoxal, adiciona alguma complexidade a sua composição).

Mas o caso é que em linhas gerais não há complexidade alguma. A gente não sabe nada sobre essas pessoas, ou seus passados. Não há motivações mais elaboradas, ou uma construção que torne todo o contexto por trás um pouco mais claro. Ok, há um grupo de insurgentes separatistas que pretende ocupar a Casa Branca e assassinar o presidente em exercício - um ditador extremista que está em seu terceiro mandato. A ideia dos fotojornalistas é chegar à Washington DC, antes dos rebeldes para tentar obter uma entrevista do mandatário. O que envolverá uma viagem de mais de 1.300 quilômetros por um País devastado, com aqueles cenários típicos de produção pós-apocalípitica, com rodovias preenchidas por carros destruídos, cidades fantasmas e cidadãos nem tão "de bem" assim, que empunham armas em posto de gasolina, como se isso fosse apenas a rotina. E, bom, nos Estados Unidos há a chance de isso ser a rotina. "Ãin, mas o personagem do Jesse Plemons deixa claro qual era o ponto da produção". Sim, posso até concordar. Mas ao propor uma obra apenas vingativa e com derramamento de sangue, Garland parece entreter apenas aqueles que ficam de pau duro com filmes de ação esvaziados. Eu achei pouco pra tanto barulho. Caí no bait.

Nota: 4,0


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