sexta-feira, 14 de junho de 2024

Foi Um Disco que Passou em Minha Vida - The Killers (Hot Fuss)

Talvez o maior disco de estreia do milênio? Ou será que a crítica tinha razão em afirmar, à época, que essa era apenas mais uma banda a se aproveitar do revivalismo dos anos 80 - com seu fácil apelo nostálgico -, pra entregar um punhado de canções óbvias? Eu, sinceramente, não sei como é pra vocês, mas o caso é que o Hot Fuss, o álbum inaugural do The Killers, segue mexendo comigo. Vai ver é só a lembrança juvenil meio falha de uma época em que éramos apenas estudantes universitários do curso de Jornalismo cheios de sonhos, indo pra alguma boate do interior para levar alguns foras de algumas meninas, enquanto cantarolávamos a plenos pulmões Mr. Brightside sem nem saber direito o significado da letra. Aliás, que só fica melhor depois que a gente entende - e quem nunca sofreu ao ver a pessoa que ama nos braços de outro, em um grau de literalidade comovente (Mas ela está tocando o peito dele agora / Ele tira o vestido dela agora / Deixe-me ir), que atire a primeira pedra. Mas o caso é que seguimos num caso de amor.

Sim, hoje em dia a citada canção que ficou não sei quantas dezenas de semanas entre as mais tocadas da Billboard talvez seja a mais batida do planeta Terra entre aquelas de empolgação pós-adolescente - e não existe absolutamente nenhuma bandinha de colégio que investe em uma sonoridade tardiamente alternativa, que já não tenha executado essa música em meio a vocais desafinados e boas intenções. Mas estamos falando de 2004. Do inverno de 2004, mais precisamente. E eu não quero fazer parecer que existe algum tipo de saudade melancólica daqueles dias, porque sinceramente não há. Eu tinha 23 anos, trabalhava na mesma Universidade em que estudava e, naqueles anos de esperança do primeiro Governo Lula, eu ainda não tinha certeza do que ocorreria dali pra frente. Ganhava pouco. Me ferrava inacreditavelmente - na seara amorosa era uma espécie de Mr. Brightside nada surpreendente, sem o charme, o carisma, a beleza, o fashionismo e o estilo de canto à David Bowie de Brandon Flowers. Mas o caso é que escutei e escutei o Hot Fuss - que chegou até mim meio que em tempo real, enviado pelo meu irmão Felipe (o Pi) que, na época, residia na Nova Zelândia.


 

Em 2004 o Genius (ou o Letras) ainda eram produtos meio incipientes na Internet e, entre um acesso e outro no Orkut, a gente descobria que Jenny Was a Friend of Mine, a música que abre o trabalho, poderia ser sobre um sujeito acusado do assassinato da própria namorada (ou de alguém que o eu lírico estivesse a fim). O que tornava tudo mais pungente - da abertura que emula uma saraivada de hélices de helicóptero à tensão da melodia sombria, soturna, de madrugada que avança enquanto as tragédias acontecem. Ocorre que a cada semana a gente se apaixonava pelo disco por um motivo diferente. Lá pelas tantas, Smile Like You Mean It poderia se tornar a preferida, com a sua melodia ondulante, refrão grudento e letra sobre amadurecer - e (tentar) estar preparado pra isso. No outro mês a paixão migrava, pairava em All These Things That I've Done, com seu coralzinho de Igreja que cai como uma luva em uma canção sobre conflitos internos religiosos. Ali adiante a gente gostava mais de Somebody Told Me ou de Andy You're a Star. Por motivos os mais variados.

Aliás, essa primeira metade segue impecável como uma das maiores primeiras metades daquela década. É tudo absurdamente glorioso - mas uma glória meio empoeirada, que parece emular uma Las Vegas suja, das noitadas dos cassinos ou dos postos de gasolina, das beiras de estrada empoeiradas e iluminadas de final de noite (ainda que o grupo pareça saído da Inglaterra, com sua mistura de sons que vai de Smiths à The Police, passando por New Order e pelo já citado Bowie). Os detratores gostam de dizer que não há coesão no trabalho, que ele atira pra tudo quanto é lado - e não há algo mais coeso do que unir sintetizadores cintilantes, guitarras mais altas que o normal e vocal sofrido. Flowers, naquele momento, tinha 22 anos. E parecia ser capaz de cantar sobre qualquer coisa. De luta contra as drogas e amores gays (On Top, que segue sendo a minha favorita, com seu sintetizadorzinho Erasure e refrão maior que a vida), passando por HIV (Believe Me Natalie), até chegar na insanidade de criar uma balada roqueira meio boba sobre a cena independente quase desgastada naquele começo de década (Glamourous Indie Rock and Roll). Retornar pra esse disco e pra todas essas músicas, me joga de volta à estrada, pro velho Mondeo do meu amigo Carlos Spohr em alguma noite gelada de 2004/2005, cantando Mr. Brightside em meio a uma série de incertezas. Um período em que não tenho exatamente saudade em si. Mas que fazer parte da minha formação. Do meu amadurecimento. Musical, inclusive. E o Killers está no meio disso. Feliz vinte anos.

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