quinta-feira, 13 de junho de 2024

Novidades em Streaming - Gasoline Rainbow

De: Bill e Turner Ross. Com Makai Garza, Nathaly Garcia, Micah Bunch, Nichole Dukes e Tony Abuerto. Aventura / Drama, EUA, 2023, 110 minutos.

"É a minha primeira vez experimentando coisas". É uma frase tão banal, tão corriqueira, aquela dita por um dos cinco jovens protagonistas que acompanhamos no alternativo Gasoline Rainbow, que ela quase passa batida. Mas ela é fundamental. E, em alguma medida, parece resumir parte daquilo que pretende o projeto dos irmãos Bill e Turner Ross. Afinal de contas, quantas "primeiras vezes" não teremos em nossa juventude? Quantos eventos bons ou ruins não se sucederão em cascata? Decisões erradas, incertezas, medos e a sensação de não pertencimento, se alternando com ocorrências que jogarão luz às nossas existências - seja ela assistir o antigo filme de Cheech e Chong ou cantarolar uma música dos Beatles? Todo mundo já foi um adolescente imaturo, que não sabia muito bem que rumo seguir na vida, ao passo em que gostaria de ter tudo ao mesmo tempo e agora e penso que essa pequena obra capta bem essa atmosfera. Ainda mais no interior dos Estados Unidos, com suas longas rodovias, cenários empoeirados, um estilo de vida de sonho que, ali adiante, pode se converter em pesadelo.

Ok, o leitor mais atento poderá dizer que esse tipo de obra - road movie de amadurecimento com jovens americanos da geração Z e fora do padrão, que tentam encontrar seu lugar no mundo -, já foi feita dezenas de vezes. Mas o que seria a arte senão a reciclagem de ideias a partir de novas percepções? Não sei se é o caráter semidocumental da produção -, que alterna narrações em off dos jovens, com os acontecimentos em si. Ou vai ver é o naturalismo de tudo - especialmente das sequências na van, com os diálogos rápidos, espertos, cheios de citações culturais e uma organização meio frenética de ideias. Talvez seja a fotografia dessaturada e granulada, que amplia a sensação de melancolia das tardes e noites que parecem não ter fim e do ideal de viver até as últimas consequências. Ou provavelmente seja apenas a mistura de tudo, que se une a camaradagem do quinteto, as reações de surpresa diante de eventos inesperados, a alegria das descobertas e até o temor da violência repentina.


 

Na trama simplíssima, cinco jovens estão concluindo o ensino médio e resolvem fazer uma última viagem até a costa Oeste americana, cruzando parte dos Estados Unidos, saindo do Oregon em direção ao Oceano Pacífico. A gente não sabe muito sobre esses adolescentes que não seja o fato de que eles estão muito pilhados com aquilo tudo - o que fica evidente no kit risadaria de qualquer bobajada dita, nas bebidas, na maconha, nas perspectivas. É uma saída da bolha que é simplesmente fundamental, especialmente para quem cresceu na província, com seus problemas mesquinhos e cotidianos, que não cruzam sequer os limites do município. E será depois de uma das noitadas mais épicas, que um dos meninos dirá a frase que abre essa resenha. Todas as novidades do mundo são recebidas com entusiasmo - seja um show de metal improvisado, as tentativas de aprender a andar de skate, uma viagem de barco meio que do nada e até a ideia de dormir ao ar livre, em praça pública.

Só que se engana quem pensa que esse tipo de narrativa descamba para o hedonismo precoce ou para a nostalgia simplista. Afinal de contas, o trabalho dos irmãos Ross nunca parece ter a intenção de fazer parecer com que aqueles adolescentes são mais maduros do que eles são. As inseguranças estão em toda a parte e nem sempre as coisas saem a contento, como no instante em que eles resolvem dar carona para um andarilho que, mais adiante, após uma noitada, lhes aplicará um golpe. A vida nessa idade é feita de altos e de baixos e quando uma desventura ocorre, sempre será a oportunidade de reconfigurar a rota. De ir a pé. Ou de trem. De rir, de gritar ou de chorar. De encontrar uma série de pessoas pelo caminho - algumas delas interessadas nelas, em suas conversas, no que elas têm a dizer. É nesses instantes mais íntimos que o projeto também ganha força: problemas familiares, racismo, sensação de abandono, aquecimento global, choques geracionais, tecnologias - tudo aparece de forma orgânica, fluída, em uma produção honesta, direta, envolvente, com roteiro improvisado e atores amadores. "Crescer é assustador", lembrará alguém em certa altura. Sim, a gente sabe disso desde sempre. E é por isso que nos identificamos.

Nota: 8,5


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