De: Luca Guadagnino. Com Zendaya, Josh O'Connor e Mike Faist. Drama / Romance, EUA, 2024, 131 minutos.
Rivais (Challengers) é um filme moderno em absolutamente todos os seus elementos. Pra começar tem um triângulo amoroso em que absolutamente "todos os lados se tocam" - como definiu o diretor Luca Guadagnino, em entrevistas de divulgação. Depois tem um trio central bastante sexy, formado pelos astros Zendaya, Mike Faist e Josh O'Connor que, de quebra, trafegam nos bastidores de um dos esportes mais excitantes do planeta - sim, o tênis. Há ainda a trilha sonora hipnótica que parece nascida para aparecer em algum corte do Tik Tok - cortesia da dupla Trent Reznor e Atticus Ross -, que se soma ao estilo de filmagem caleidoscópico, de idas e vindas, com raquetadas e bolas e plateias e seus olhares se intercalando de forma inacreditavelmente fluída. E tem ainda o fato de que é uma puta história de amor bem construída, com personagens complexos e algum tipo de aceno às paixões ambiciosas, pautadas pelo sucesso financeiro (e de coachs) e que parecem bem típicas da pós-modernidade.
E, bom, talvez o tiozão conservador da família de bem não seja o público-alvo do projeto e tá tudo bem eles acharem estranho o fato de os tenistas Art Donaldson (Faist) e Patrick Zweig (O'Connor) não disputarem, simplesmente, o coração de Tashi Duncan (Zendaya), como talvez ocorresse em alguma produção de meio século atrás. O mundo evoluiu, é muito mais complexo e é justamente essa abertura de possibilidades que torna a experiência com Rivais tão envolvente. A gente simplesmente não consegue desviar a atenção a cada close no olhar semicerrado de Zendaya, entre a incerteza e a confiança de supostamente estar no controle de todas as situações. Ao mesmo em que as diversas idas e vindas no roteiro tornam a narrativa surpreendente e vibrante ao entregar ao espectador pequenas pílulas que ajudam a entender certas atitudes de todos ali, bem como o que os movimenta. Vinganças pessoais? Traições? Amores não correspondidos? Segredos prestes a serem revelados?
É tudo tão estimulante assim como é uma partida de tênis de quatro horas de duração - e que pode ser decidida no último ponto, em uma jogada ousada e arriscada, já no tie break. Aliás, a alegoria de uma partida em disputa que servirá como pano de fundo decisivo para as situações do roteiro chega a ser quase óbvia, ainda que seja aplicada de forma inteligente e nunca cansativa. O filme começa, aliás, justamente em jogo entre Donaldson e Zweig que, entre suores vertidos e golpes e contragolpes parecem estar fazendo um esforço homérico de superação. Tudo observado por uma Tashi tão ansiosa quanto segura posicionada exatamente no centro da quadra, junto à rede. É a deixa inteligente de Guadagnino para que percebamos que naquele triângulo as pontas, em alguma medida, se equilibram. Ainda que 13 anos antes, quando a trama retorna no tempo, para um torneio juvenil de 2006, sejamos incapazes de prever os eventos ocorridos. E quais os ressentimentos que emergem entre todos ali.
Nesse sentido trata-se de uma obra sensual, mente aberta e direta, que não faz muita firula e nem adiciona complexidade excessiva em seus argumentos. Aqui temos o drama romântico atualíssimo por excelência, com atrações mútuas e acontecimentos imprevistos que mudam o contexto a todo momento. Tashi, por exemplo, sai de uma das mais promissoras tenistas de sua geração à aposentadoria precoce após uma grava lesão no joelho. O que a faz se aproximar do obstinado Donaldson, que deseja ter uma carreira no esporte, diferentemente de Zweig, um sujeito mais descompromissado, ainda que com grande potencial (o que o faz perder o rumo quase à ponto de se humilhar, na tentativa de retornar ao circuito). Os raros encontros entre os três - ou mesmo entre dois -, farão com que saltem faíscas em meio a brincadeiras supostamente singelas (como na cena dos churros), ciúmes obsessivos e sorrisos enigmáticos. Cobiças, desejos, estabilidade - financeira e sexual - está tudo lá. Embalado, de forma paradoxal, entre o sofisticado e o kitsch. Irresistível.
Nota: 8,5
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