sexta-feira, 28 de junho de 2024

Pitaquinho Musical - Papisa (Amor Delírio)

"Pode acreditar / Nem tudo é deserto / Depois da noite escura / Outro dia vai nascer / E quando acontecer / O sol brilhará". A janela abriu e o sol entrou. E tudo está mais aquecido, vivo. E não é que Fenda (2019), a estreia em disco da cantora paulista Rita Oliva, a Papisa, fosse excessivamente melancólico ou sombrio. Talvez ele fosse mais íntimo, com uma sonoridade mais densa, que unia misticismo e introspecção - aliás, a própria capa já entregava esse componente mais ritualístico (nas vestes, nas cores, nos adereços e maquiagens). Só que tudo isso foi há cinco anos, antes da covid-19 e de uma inesperada interrupção de tudo aquilo que estava programado. "Fiquei em um momento de luto pela pandemia – pelo mundo inteiro, pela música que tinha parado. Depois disso, percebi que eu queria realmente a música como um recurso para trazer encantamento para a vida, trazer sol, e foi essa a minha busca", explicou a artista em entrevista ao Scream Yell, a respeito de Amor Delírio, o recém-chegado segundo registro.

 


 

E esse aspecto mais ensolarado pode ser percebido não apenas na sonoridade das faixas que, aqui e ali, mesclam psicodelia moderna com o dream pop noventista, mas também nas letras, mais otimistas, com um maior destaque para a voz, que forma um conjunto harmonioso no todo - o que pode ser constatado em canções como Vai Passar (do trecho que abre essa pequena resenha) que, a despeito de certa melancolia nos arranjos, possui versos otimistas sobre volta por cima. Já no indie rock Dores no Varal - música sobre a transitoriedade do amor que, por mais intenso que seja, pode resultar em dor -, o sol que raia reaparece formando o cenário para uma alegoria óbvia a respeito do renascimento e do aspecto cíclico das paixões (Eu plantei flores no quintal / Amores no verão / Dores virarão / Roupas no varal). Mais expansivo, com mais elementos, instrumentos e efeitos eletrônicos - o que pode ser observado em outros instantes, como na movimentada Melhor Assim e na oitentista Corte -, esse é um álbum mais complexo, e que tem produção de Felipe Puperi, do coletivo Tagua Tagua. Vale conferir.

Nota: 8,0


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