terça-feira, 19 de julho de 2022

Novidades em Streaming - Casa Gucci (House of Gucci)

De: Ridley Scott. Com Lady Gaga, Adam Driver, Al Pacino, Jeremy Irons, Salma Hayek e Jared Leto. Drama / Suspense, Canadá / EUA, 2021, 159 minutos.

"A Gucci é um negócio de família. E negócios de família significam problemas de família". A frase dita por um investidor no decorrer da narrativa de Casa Gucci (House of Gucci), que está disponível na plataforma da Amazon Prime, resume, de alguma forma, o emaranhado trágico - daqueles dignos de novela mexicana - que acompanhamos durante mais de duas horas e meia. Aliás, muitas pessoas têm apontado o caráter melodramático da história dirigida por Ridley Scott, a partir de obra de Sara Gay Forden, como um suposto problema. Mas o caso é que não tem como ser diferente em meio a tantas traições, escândalos, intrigas, decisões equivocadas e, claro, crimes, envolvendo os integrantes da mundialmente conhecida marca de artigos de luxo. Tudo, é óbvio, inserido em um universo de glamour que gera uma espécie de contraste involuntário à baixeza dos atos dos herdeiros do clã.

E eu, sinceramente, esperava menos do filme que, em resumo, foi o maior esnobado da última edição do Oscar. Mas, ao cabo, é uma experiência que entretém e que serve ainda para apresentar às gerações mais novas o contexto que levaria Maurizio Gucci - um dos sucessores da dinastia - a um trágico destino. E, aqui, cabe salientar que eu ignorei as prováveis licenças poéticas do enredo, bem como a quase inexplicável opção pela língua inglesa em detrimento da italiana - com os sotaques forçados (especialmente os do histriônico Paolo de Jared Leto) sendo peças de humor meio involuntário. Fora esse aspecto rocambolesco do conjunto o caso é que, como obra de true crime, Casa Gucci cumpre o seu papel, envolvendo o espectador em um roteiro repleto de boas surpresas, com um desenho de produção caprichadíssimo, figurinos e maquiagens idem e interpretações competentes do elenco - e é preciso admitir que Lady Gaga, no papel complexo de Patrizia Reggiani entrega uma espécie de pacote completo, como uma figura que parece estar em um turbilhão emocional permanente.


Filha de um empresário da área de transportes rodoviários, ela, uma mulher ousada, impetuosa, se aproximará de Maurizio (Adam Driver), um sujeito tímido, introspectivo, de uma forma meio aleatória em uma festa. A amizade se tornará um romance que fará com que o filho de Rodolfo Gucci (Jeremy Irons) seja deserdado - e claramente o pai do rapaz não aceita o relacionamento com uma jovem que está abaixo deles na pirâmide social. Sem dar muita bola pro status quo, Maurizio não apenas se casará com Patrizia, como ainda aceitará um trabalho na empresa do pai da jovem - com direito a cenas em que ele surge lavando caminhões. A oportunidade de reaproximação com o clã Gucci se dará quando o casal receber um convite para o aniversário do tio Aldo (Al Pacino). Magnetizado pela elegância meio exótica de Patrizia, Aldo os convidará para retornar aos negócios da marca. E, bom, as ambições se confundirão com o brilho na hora de manter o prestígio em um segmento de alta exigência - sendo quase inevitável que a coisa desande. Especialmente com a interferência de outros interessados, como é o caso do próprio Paolo, filho de Aldo (e, portanto, primo de Maurizio).

Engraçado e tenso em igual medida, o filme encontra o equilíbrio certo para que o projeto não descambe para o mero deboche ou para o dramalhão excessivo - por mais que algumas sequências, especialmente aquelas vistas do terço final, possam lembrar algumas cafonas novelas exibidas pelo SBT. Com uma paleta de cores vibrante e uma trilha sonora saborosa - o desfile vai de George Michael a Donna Summer, passando por Blondie e David Bowie - a narrativa cobre mais de duas décadas, sendo um deleite para aqueles que consideram a moda uma verdadeira arte. Um bom exemplo desse balanço entre estilos se dá na sequência em que a família descobre que seus produtos estão sendo pirateados - o que se estende para os dias atuais, em tempos de comércio Made in China. Enquanto Patrizia fica furiosa, Aldo parece despreocupado. É o estopim para que a bomba-relógio não tarde a explodir, o que trará consequências trágicas pra todos. E que exemplificarão a gangorra emocional dos envolvidos, em uma história tão luxuosa quanto histérica de ascensão e queda. E que é digna da máfia italiana.

Nota: 8,0


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