De: Hong Sung-Eun. Com Gong Seung-Yeon, Jeong Da-Eun e Seo Hyeon-Woo. Drama, Coréia do Sul, 2021, 91 minutos.
Esse diálogo pode parecer apenas prosaico, ou até simples, mas, de alguma forma, ele dá o tom daquilo que pretende a diretora Hong Sung-Eun em seu filme de estreia. Ao cabo, o que temos aqui é um olhar afetuoso sobre a solidão nesse avançar de século 21. Um período em que tudo está acelerado de uma forma que não parece haver tempo pra mais nada. O vídeo é consumido no celular ao mesmo tempo em que o jantar de microondas é aquecido. A velocidade atropela tudo de uma forma tal que Jin Ah se torna a funcionária do mês no trabalho, mesmo que ela tenha perdido recentemente a sua mãe - a quem, aparentemente, negligenciava, nessa correria do dia a dia. Como "prêmio" pela dedicação em seu ofício, recebe de sua chefe a chance de treinar uma nova colega, no caso a jovem Su Jin (Jeong Da-Eun). A contragosto ela atende o pedido. Precisa do emprego. Antes que uma máquina lhe substitua, como anuncia a sua superiora - num daqueles clássicos casos de assédio moral.
Em um filme como esse se tem de tudo um pouco: o vazio existencial das grandes cidades - onde a vida se resume a ir e vir do trabalho, se alimentar mal, e dormir no cubículo mal arranjado chamado de casa -, a precarização do trabalho (com pouquíssimos direitos e muitos deveres), a falta de socialização que advém da tecnologia (tudo afinal é online, as conversas, as trocas, até mesmo o apartamento de seu pai, Jin Ah observa por uma câmera acoplada ao seu equipamento). É como se aqui estivéssemos diante dos personagens de Era Uma Vez em Tóquio (1953), num encontro com a protagonista do livro Querida Kombini, de Sayaka Murata, que se somam a uma boa pitada de A Sociedade do Cansaço, obra-prima de Byung Chul-Han que versa justamente sobre os efeitos colaterais desse modelo repressor da atualidade, em que trabalhamos mais, ganhamos menos, e perdemos muita saúde (com o aumento dos casos de depressão, transtornos de personalidade, burnout e outras síndromes).
Talvez não seja por acaso que Aloners flerte levemente com algum tipo de realismo mágico em suas idas e vindas - especialmente quando um vizinho de Jin Ah, que ela encontra todos os dias no corredor do prédio, é encontrado morto. Aliás, é justamente o odor do seu corpo em putrefação que chama a atenção dos demais moradores. O vizinho morre solitário, soterrado, em mais um simbolismo atual, por uma pilha de revistas pornográficas. Em meio a tudo, a protagonista é a figura solitária que circula pra lá e pra cá, sem tirar o fone de ouvido para absolutamente nada. Almoçando sozinha, existindo sozinha, sobrevivendo da mesma forma. É um tipo de casca que, lá pelas tantas, ela mesma admitirá que mantém, como que para se proteger do mundo lá fora. Mas não demorará para que ela própria se lembre de que solidão é diferente de solitude. E de que os caminhos para tentar uma readaptação podem ser menos complexos do que parecem. A reflexão, para o espectador que acompanha a jornada, é comovente.
Nota: 8,5
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